Poesia em Junho*



            Junho é um mês repleto de poesia. Logo no primeiro dia somos convidados a celebrar a infância. Seja manifestando os afectos às crianças que nos são próximas, seja providenciando a todas, sem excepção, as condições para que cresçam em harmonia, desenvolvendo a totalidade das suas potencialidades. Seja concedendo-lhes o espaço e o tempo para brincarem.
            Brincar – um dos verbos mais bonitos, para mim. Aquele que, seguramente, proporciona mais instantes de felicidade, contentamento e alegria. Em especial quando brincamos com as crianças que nos rodeiam, ou tão-somente, quando permitimos que a criança que em nós habita, também ela, desabroche... brincando.
            Brincar é um termo tão amplo que pode ser usado e abusado em quase todas as circunstâncias. Brincar com as palavras, por exemplo, conferindo-lhes sentidos e significados para lá do óbvio – como na poesia.
            Em “Liberdade” de Fernando Pessoa fica expresso que “o melhor do mundo são as crianças”. Recuperar o futuro, pois “breves são os anos”, “para o fim do futuro!” – inspiro-me no poeta instando que cada um nós recupere o riso das crianças. O riso dobrado, que tanto me estimula a rir.
Rir até às lágrimas, qual emoção quando escutei pela primeira vez o riso dobrado do Gonçalo e do Rodrigo – as ‘minhas’ crianças. Aquelas que me iluminam o olhar e me lembram que “para ser grande, sê inteiro (...) brilha, porque alta vive” [a lua].
            Foi no dia de Santo António, a 13 de Junho de 1888, que Fernando Pessoa nasceu em Lisboa. No mesmo mês, mas séculos antes (a 10 de Junho de 1524), também em Lisboa, nascia outro grande poeta português: Luís Vaz de Camões, “Que num amor que arde sem se ver” me transporta para um “mar de contentamentos”. Celebremos, pois, brincando a poesia que existe em cada criança. Na criança que subsiste em nós, ainda que frequentemente reprimida. Afinal, para que serve a vida se não para ser desfrutada, partilhada e realmente vivida, mais ou menos poeticamente, mas se possível... brincando.
            Este ano, o dia 18 de Junho calha a um Sábado. E calha bem, pois as brincadeiras com as crianças têm mais uma oportunidade de serem vividas e celebradas: é o dia internacional do piquenique. Se fosse dada a apostas, seria certamente uma aposta ganha, ao afirmar que o leitor ou leitora tem boas recordações dos piqueniques da sua infância... e não só. De facto, pelo que conheço das gentes de Nogueira do Cravo, essa é uma prática bem apreciada, sobretudo no Verão, à beira-rio, nas Caldas de São Paulo, só para dar um exemplo.
            E o Verão está mesmo a chegar. Este ano o seu solstício é a 20 de Junho. Nesse dia, mas em 1969, Neil Armstrong cumpria um dos maiores sonhos da humanidade: pisava a Lua. Inspirava, desse modo, mais e mais poetas a cantarem o astro que na noite aquece e envolve os corações.
As noites de Verão ao luar são propícias não só à poesia, mas também à festa, à música. E música não falta para brincar e saltar as fogueiras nas noites de Santo António, São João e São Pedro – o padroeiro que fecha em grande mais um mês... Pois que seja bem vivido e aproveitado e partilhado, para que não fiquemos na angústia de Fernando Pessoa: “A vida nos viveu”...

* Este texto foi publicado no Jornal "O Chapinheiro"

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