Até Já!... O que quero dizer
à Quinta de Monserrate e a todos os seres que nela vivem e/ou viveram. Até já!;
só me imagino a regressar: para aqui! Para este lugar maravilhoso – voltar à
quinta na cidade. À ilha na cidade – o modo como habito na quinta, como a
vivencio: uma ilha aparte do bulício da cidade.
No momento em que escrevo,
os meus sentidos estão despertos: escuto o canto dos pássaros, dos melros, por
exemplo. Mas há mais, muito mais aves a construírem os seus ninhos nas árvores
altas e cada vez maios frondosas. Aves de vários tamanhos e cores a repicarem
no repuxo, soltando pingas de água que brilham e resplandecem com os raios de
sol... em Maio, quando o amor está no ar, quando a
Primavera cintila com todo o seu fulgor.
Os plátanos, os pinheiros,
as camélias rosas, brancas, vermelhas, cuja textura macia das flores me toca
generosamente. Como generosas são as laranjeiras, que me oferecem – na sua
exuberância de época – laranjas para o pequeno-almoço, ou para qualquer hora do
dia. Nem é preciso esforçar-me. Antes de entrar em casa, uma laranja salta aos
meus pés, como que antecipando a minha chegada. O marmeleiro está em flor e os
seus botões, abrindo num rosa pálido, adivinham a geleia e a marmelada que eu
adoro – as delícias do meu palato.
Os olhos sempre extasiados; hoje,
pelas rosas que florescem escandalosamente por todos os cantos, colorindo-os de
vermelho, rosa, branco e outras tonalidades. No alpendre – onde as palavras se
revelam agora na sebenta –, as sardinheiras, as petúnias e outras cujo nome
ignoro, concorrem sem competir com as rosas que o cobrem... Noutro jardim, os
brincos de princesa transportam-me para a infância, quando eu usava alguns
botões nas orelhas, acreditando que sim senhora, os contos de fadas são
reais...
As tulipas anteciparam-se e abriram-se num
fogo que quase me fez crer que a Primavera chegara. Alegraram e coloriram ainda
mais os dias que já em Fevereiro sentia a escassearem por entre os dedos, à
velocidade da areia que, em vão, se tenta agarrar nas mãos.
Agarrar... nada disso! Quem
agarra tem quase sempre muito a perder. O que a vida me transmite é uma
confiança cada vez maior e cada vez mais próxima do inabalável de que o que tiver
de ser, há-de ser.
Quando me sento no banco
verde em frente à janela dos periquitos e canários de todas as cores, sempre a
chilrear, observo e apreendo outros sons, enquanto os olhos se deleitam nas
flores, na erva verdejante que, quando acabada de cortar, exala um aroma
inebriante.
Nestes dias, o coração
começa a apertar. Mesmo confiando na vida, gostaria – sem forçar... já se sabe
– que o porvir me trouxesse de volta aqui. E, assim, sentir de novo o
acolhimento do Jackon e do Kelvin que todas as manhãs aceitam os meus afagos no
seu pêlo serrano.
A mala não está pronta e já
uma saudade em crescendo dos ‘bom dia, louise’ do Gustavo.
A mala não está pronta e os
meus olhos já se retraem para não deixar verter a emoção em estado líquido.
Ah... as despedidas. Não quero despedir-me. Prefiro: Até já!
Até já à serenidade que esta
casa cheia me concede. Até já à boa-disposição e ajuda incansável da Emília.
Até já aos cuidados da Rosário, sempre disponível, no seu sorriso luminoso e bondoso
para o que for necessário.
Até já ao sorriso
transbordante da Maria. Até já às conversas com o Cláudio e o Sebastião.
Até já às memórias vívidas
da alegria do Beto e das risadas com a Júlia, os Bernardos e o Orlando.
Até já aos fins de tarde e
noite em que o FCP joga, trazendo os amigos do Gustavo e fazendo-os sofrer
alegremente – este ano foi só sofrer... mas um sofrer bem-disposto.
Ah, a quinta – tão perto do
mar e do Parque da cidade.
Querido Gustavo, lembra-te
de mim e guarda um lugar para quando eu voltar... Obrigada!
E muito obrigada por estes
meses de partilha com uma pessoa tão especial como tu! Cuida-te!
Cuidem-se e continuem a
cuidar deste lugar, desta ilha preciosa na cidade –quase me atrevo a dizer:
cuidem deste pequeno e imenso paraíso: a Quinta de Monserrate.
31 de Maio de 2016
Matosinhos, Portugal
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