O meu primeiro beijo

            O meu primeiro beijo. Com ou sem língua? O primeiro foi um xoxo. Doze anos. Férias no Algarve – Cabanas de Tavira. Várias casas geminadas. Várias famílias em partilha ao fim da tarde e noite. No calor de Agosto o cinema ao ar livre. Filmes indianos pouco interessam a crianças quase adolescentes. Eu e o Luís. Ele mais novo que eu – a minha sina. Luís – a minha sina também no nome. Cabelos loiros encaracolados ao meu lado na primeira fila a ver – pouco – os actores coloridos em dança pegada no écran.
            Os dois juntinhos. Do parque do cinema para o terraço da sua casa vizinha à minha, alugadas por quinze dias à beira-mar, cheios de bolas de Berlim – sempre sem creme. Noites de estrelas, muitas. O céu limpo: o cenário ideal para os amores de Verão. Paixões pouco desabridas mas que marcam a memória de quem se lembra desse modo inaugural. Um beijo nos lábios. O primeiro!
            Velhota! Assim se me designou o garoto de rosto angelical. Estreava-me nesses gestos amorosos. O Luís... A sensação dos seus lábios nos meus é vazia. Ao contrário do segundo beijo, mas com língua: outra estreia um ano depois.
            O Miguel B. A sua língua dentro da minha boca. Isso é algo que ainda hoje me arrepia. Uma vassoura a limpar todos os cantos à casa num frémito inusitado. Que coisa horrível num campo de férias dos convívios organizado por frades. As semanas de Agosto para juntar jovens em fé num convento de freiras preparado com camaratas femininas bem distantes das masculinas. O que não coibia os adolescentes em processo de maturação de se tocarem.
            Aquela língua na minha boca a revolver cada dente com a precisão de um instrumento de limpeza que quer lavar com pormenor todas as impurezas. Um objecto estranho na boca com o poder contrário ao da purificação. Nojo! Não mais olhei para o rosto em branco na memória de quem não esquece esse beijo que de romântico só a noção de inauguração.

1 comentário:

  1. quantas lembranças dos primeiros beijos, principalmente o de lingua, em que a saliva escorria pelo canto da boca e os lábios eram sanguessugas enlouquecidas.....

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