Juventude: uma palavra, uma categorial social?*



O dia 12 de Agosto é o dia internacional da Juventude. Um dia para estimular os jovens a mudar. Ou, como grande parte dos dias instituídos, neste caso pela ONU em 1999, um dia para dar visibilidade aos problemas que os jovens enfrentam, em tempos difíceis. Ainda assim, os jovens são considerados, pelas gerações mais velhas, aqueles que têm a energia e o vigor para lutar por um Mundo melhor e para transformarem as circunstâncias em que se encontram.
Sociologicamente falando, a juventude é um processo de transição. Pode ser considerado um conjunto de pessoas aparentemente semelhante, se compararmos com outras gerações – daí que se fale numa consciência geracional. Ou pode ser considerado um conjunto de pessoas aparentemente distinto, se entendermos este conjunto com atributos sociais que diferenciam os jovens uns dos outros, em função dos seus interesses, das suas origens e das suas perspectivas e aspirações – daí que se ouçam expressões como culturas juvenis, novas tribos urbanas ou outras designações, que não passam disso mesmo: classificações.
Uma coisa parece certa para os que se encontram noutras fases da vida: os jovens são aqueles que, para terem acesso à vida adulta, devem ingressar na vida activa. Isto é, iniciarem a sua ocupação profissional e, assim, adquirirem autonomia social. Por outras palavras e sociologicamente continuando, alcançarem a sua emancipação económica e habitacional, constituírem o seu próprio agregado familiar e viverem na plenitude os seus direitos e deveres cívicos.
Porém, a entrada no mercado de trabalho é cada vez mais tardia (por inúmeras razões), bem como a aquisição de uma profissão estável e duradoura – se é que hoje se pode utilizar esta expressão. Por conseguinte, assistimos a um prolongamento da condição social ‘Juventude’.
Ora, esse prolongamento poderia ser positivo, como uma ‘pescadinha de rabo na boca’. Quanto mais tarde o jovem tiver o seu emprego e consequentemente, autonomia social, mais tempo tem para ser jovem e, consequentemente, para continuar a lutar por um Mundo melhor. Mas não é isso que ouvimos das gerações mais velhas. Pelo contrário, quantos jovens escutam: ‘vai mas é trabalhar, vadio!’; ‘tens de ser responsável’. E ser responsável é ter capacidade económica para ter casa própria e família e etc. Mas, mais uma vez a ‘pescadinha de rabo na boca’: quantos jovens passam para a fase adulta quando ainda são considerados jovens? (sob o ponto de vista da idade – até aos 29 anos, por exemplo)
Ora, os jovens não consideram positiva a dificuldade em encontrar emprego, nem tão-pouco ver protelada a sua autonomia e independência. E, talvez por isso, nunca como hoje (nem mesmo na década de 1960), tantos jovens se vejam obrigados a saírem de Portugal, para assim alcançarem autonomia e se transformarem em adultos. Se, para muitos, sair de Portugal é interessante; para muitos outros, tal é sobretudo uma inevitabilidade indesejada.
Talvez faça mesmo sentido um dia para lembrar aos mais velhos que também lhes cabe criar condições para que os mais novos possam ser autónomos. Por exemplo, mas só um exemplo: aqueles que estão no poder e podem alterar as políticas. E se eles deixassem de pensar apenas nos seus interesses (e dos seus amigos mais poderosos) e fossem um pouco jovens. Ou seja, se aqueles que estão no poder (e que como tal podem efectivamente mudar o Mundo) pensassem e agissem de outro modo e, assim, lutassem por um Mundo melhor...
Até porque os problemas que os jovens enfrentam, nomeadamente as dificuldades de acesso ao emprego/trabalho, à habitação própria e a pobreza não são problemas exclusivos dos jovens. Se existe uma consciência geracional e se existe uma consciência política, então que sejam consciências atentas e activas e solidárias, que ajudem a criar as condições sociais necessárias para que os jovens se lhes juntem e se transformem então – em adultos responsáveis.
Não obstante...
Se ser jovem é ser irreverente e querer fazer algo fora do estabelecido e/ou conhecido
Se ser jovem é ser rebelde e querer rebelar-se face ao que desagrada e face às injustiças
Se ser jovem é ser aventureiro e querer descobrir novos lugares e pessoas
Se ser jovem é ser sonhador e querer tornar o Mundo pelo menos um pouco melhor
Se ser jovem é ser confiante e querer ultrapassar todos os obstáculos por algo em que se acredita
Se ser jovem é acreditar no amor incondicional e querer viver esse amor
Se ser jovem é mais do que uma categoria social
Se ser jovem é mais do que uma fase de vida
Se ser jovem é realmente mais, muito mais do que uma palavra
Então eu quero ser eternamente jovem!

*Texto publicado no Jornal: O Chapinheiro