Entre o Funchal e o Rio de Janeiro*






Esta e as próximas crónicas terão o sotaque carioca. É no Rio de Janeiro, sentada numa 'lanchonete', que a caneta desenha as palavras na sebenta. Respondi a um chamado para trabalhar na organização dos Jogos Olímpicos e aqui permanecerei até ao fim de Setembro. A distância não me tem impedido de aqui estar com o leitor ou leitora. Na verdade, com o desenvolvimento das telecomunicações, tenho acesso a quase toda a informação que necessito.
Um dos locais privilegiados para aceder ao mundo, mesmo que virtual, é sem dúvida a biblioteca - para mim, um dos lugares mais ricos que existe. Por isso, não consigo deixar de passar ao lado do dia 1 de Julho - o dia que lhe é dedicado -, mesmo que me repita. Qualquer que seja a biblioteca, encontro sempre um livro, uma inspiração, uma voz de outro lugar, de outro tempo...  O meu mundo aumenta, assim, de dimensão. Tenho a certeza que, também aqui no Rio de Janeiro, encontrarei uma biblioteca, onde requisitar os livros que não trouxe e quem sabe sentar-me a escrever ao som das palavras no ar.
O mundo está muito mais pequeno. Mesmo que esteja a milhares de quilómetros, com o auxílio tecnológico, é muito fácil comunicar com as pessoas que se encontram no outro lado do Atlântico. Foi isso mesmo que fiz para a redacção desta crónica. É que no primeiro dia de Julho também se comemora a Região da Madeira e as suas comunidades.
Em Maio passado tive a oportunidade de passar duas semanas extraordinárias no Funchal. Aceitei mais um convite e integrei a organização do Campeonato Europeu e Open de Natação Adaptada, dessa vez como voluntária (um dia destes desenvolverei o tema do voluntariado). Parece-me, pois, ser tempo de partilhar com o leitor ou leitora um pouco da beleza da ilha da Madeira, à qual se dá o título de Pérola do Atlântico - a meu ver, com toda a razão.
Para tal, recorri a um grande amigo madeirense. Desta forma, em vez de transmitir uma perspectiva enviesada de alguém que esteve apenas de passagem, o leitor ou leitora poderá absorver, sem filtros, um pouco da voz da Madeira.
"No dia 1 de julho é assinalado o dia da Madeira e das comunidades madeirenses. Muita gente desconhece, mas certamente não haverá uma família madeirense que não tenha familiares emigrados por vários países. Mesmo assim, é na Madeira que optam por depositar esperança e retornar para viver dias mais verdes e risonhos.
O ilhéu precisa do mar para se inspirar e deslocar. É como muitos peixes que migram para zonas mais profícuas, mas nunca esquecem as suas origens e as suas gentes. Os que cá ficam criam raízes, abrem-se ao mundo, zelam pelas suas tradições e fazem da hospitalidade e da tradição as suas ferramentas mais importantes. Saibamos ser ilhéus, saibamos preservar a amizade e solidariedade e continuemos a fazer da nossa pérola um verdadeiro paraíso de ilhéus" (cortesia de Jorge Soares).

Naturalmente que muitas outras datas se poderiam aqui enaltecer. Renovo a minha preferência pelo dia do Amigo, que se celebra no dia 20. É certo que, como todos os afectos, não precisamos de um dia em especial para celebrar a amizade. A amizade vive-se no dia-a-dia, através de gestos mais ou menos pequenos. Independentemente da sua dimensão, cada gesto é grandioso. Quem me lê concordará que o número de amigos também é irrelevante. Seja uma amizade mais ou menos profunda, mais ou menos próxima (no espaço), a verdade, é que basta um amigo ou amiga para que me sinta amparada e/ou indispensável. Aproveito, pois, parar expressar gratidão às pessoas que aceitam a minha amizade e me fazem sentir amparada e protegida.

O dia 26 é igualmente uma data a destacar, mesmo que este ano seja com profundo pesar que ao dia dos avós me reporto. Nos anos anteriores, utilizei o espaço que aqui me é concedido para exaltar este dia. A única Avó que tinha partiu... A modista (o dia 23 é consagrado à modista e ao alfaiate), que durante décadas costurou tantas vestes para as gentes de Nogueira, despediu-se em Fevereiro passado. A Avó Altina, a Tia Altina... É com emoção que escrevo. A minha avó está em mim e parte do que sou hoje resulta da sua pessoa. Assim como é provável que todos os avós estejam, de algum modo, impregnados nos seus netos. Celebremos, pois, os avós que continuam em nós, de uma ou outra forma...

 * Este texto foi publicado no Jornal O Chapinheiro