A primeira vez
que fui a Bogotá havia uma razão muito concreta. Servir num retiro de meditação
Vipassana. Existem centros em todo o mundo e de entre os locais possíveis de
visitar nessa viagem de 2014, o local que mais me adequava na América do Sul
era Bogotá. De maneira que parte da viagem foi organizada de forma a estar na
Colômbia no final de Novembro desse ano.
Valeu a pena o
esforço da viagem desde Arequipa. Ao fim de vinte e quatro horas chegava à estação das
Águas, onde um rapaz muito prestável me levou até à rua do hostal Sue.
Tal como Vivian
e Victor, também este era estrangeiro em Bogotá. De facto, reparei numa
Bogotá muito cosmopolita, sendo-me difícil discernir quem era de origem
colombiana. Tal como a maioria das capitais, esta cidade recebe gente de todo o
país e de todo o mundo. Uma cidade com mais de oito milhões de habitantes, cuja
imensidão contemplei quando subi de teleférico até ao Santuário de Monserrate –
o último local que visitei em Dezembro de 2014.
Um pormenor que
me mereceu a máxima atenção: um mês depois de regressar a Portugal, estava a
morar numa quinta com o mesmo nome (!), em Matosinhos – para mim, outro
santuário. Como não acredito em coincidências, guardo determinadas memórias com
o máximo de cuidado, como aliás me merecem as pessoas que conheci em Bogotá. De tal modo me trataram bem, que quando
voltei, meses depois, nos reencontrámos e nos abraçámos e nos prometemos tornar
a encontrar e a abraçar... Como é o caso de Paola – agora a tentar a sua sorte
na terra dos cangurus – e de Stephany, estudante de arte dramática. Amigas para
a vida, com quem servi durante dez dias num retiro, não com muito silêncio,
como é apanágio da Vipassana.
Na primeira
corrida nessa cidade, em 2014, fiquei totalmente esgotada ao fim de trinta
minutos (geralmente, gosto de correr pelo menos uma hora). Só posteriormente
reparei na altitude a que a cidade está localizada – o altiplano Cundiboyacence
encontra-se a mais de 2600 metros de altitude –, cuja repercussão senti, em
particular por ter estado semanas sem dar corda às sapatilhas.
As corridas
terminavam antes das oito da manhã. O nível de poluição assim me ‘obrigava’;
não gosto de correr lado a lado com o trânsito e muito menos com nuvens de
gazes não muito saudáveis. Apesar de esta ser uma das formas que mais me cativa
para conhecer os lugares que visito, existem cidades onde não fui capaz de o
fazer pelo mesmo motivo, como é o caso de Banguecoque e Kuala Lumpur.
Em Bogotá havia
muito que visitar a pé. Como em 2014 ficou muito por conhecer, em Maio de 2015
integrei o grupo que Freddy formou para a visita guiada gratuita. Não foi a
primeira; a minha estreia nesse tipo de visita foi em La Paz, sabendo que no final deixaria a minha gratificação (mais
ou menos ao critério do turista e/ou viajante).
Foi muito
interessante escutar as histórias por detrás das ruas de La Candelaria, da
Praça Bolívar, assim como experimentar o forte e saboroso café colombiano e
jogar o Tejo: um jogo tradicional, semelhante à ‘nossa’ malha, mas dentro de
paredes, onde os pesos lançados têm de cair numa caixa de argila, na qual fica
a marca de cada lance.
Durante essa
visita perdi mais um par de óculos. Deve ser a minha sina (ou descuido sem conserto).
Habituei-me, pois, a prescindir desse objecto. Os chamados pés de galinha têm
crescido a olhos vistos. Talvez um dos motivos para que Tairrong – um rapaz de
Taiwan que conheci no meu primeiro retiro de meditação, em 2012 na Índia – me
tratasse por ‘big fish eyes’. Só porque eu estava sempre a rir-me.
Rugas de
expressão à parte, quem ri também é mais feliz e, no hostal Sue, a
boa-disposição imperava sempre que aí pernoitei. Freddy era, aliás, um grande
animador do local. Na primeira vez que me alojei em La Candelaria (em Novembro
de 2014), o colombiano convidou quem estava para assistir a uma ópera rock –
também gratuita! Apesar de ter apenas duas aulas de espanhol, os dois meses
em terras latinas ajudaram-me a compreender e a rir muito com Luciano, a
personagem principal da ópera rock, ‘Los agentes invisibles’.
Janeiro, 2016
Matosinhos, Portugal
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