Despedi-me de
Bogotá com um “até muito breve!”. Em Dezembro de 2104, procurava alguns regalos pelas ruas da La Candelaria.
Parei numa feira de artesanato. Produtos e artefactos dos Andes. Pulseiras,
colares e brincos de todas as cores a preços convidativos. Lembranças leves e
pouco espaçosas que podia e desejava adquirir para, à chegada a Portugal,
oferecer às pessoas de quem gosto, demonstrando-lhes assim que me lembrara
delas e que sim senhora, gosto muito de vocês.
De entre a
panóplia multicolor exposta, os brincos com borboletas e as pulseiras ‘atrapa
sueños’ foram os acessórios que mais me cativaram. Os primeiros eram peças sui generis – brincos elaborados com as
bagas que os eucaliptos suavemente soltam para o solo. Ali estavam sobre o
balcão de venda, trabalhadas por mãos inspiradas, que as haviam transformado em
objectos de decoração corporal. Brincos com borboletas incrustadas – um do
símbolos da Colômbia. Comprei vários pares com borboletas
azul índigo – aquelas que me
provocam anseios e desejos de também eu me metamorfosear. Como comprei três
pares, a jovem vendedora ofereceu outro para mim própria – agradeci com um
sorriso ainda mais largo.
Ainda mais, uma
vez que a mesma ‘señorita’ me concedera anteriormente uma pulseira ‘atrapa
sueños’. Encantada com esse objecto fino de protecção, escolhi uma dezena para
as amigas, não resistindo em obter uma para mim. Presenteou-me, colocando ela
mesma a pulseira, apertando com três nós ao pulso, enquanto murmurava palavras
que me soavam encantatórias, como uma lenga-lenga a enviar protecção e
boa-sorte. Uma pulseira com uma teia a imitar a de aranha, onde os sonhos são
guardados; uma pulseira que protege dos pesadelos, agarrados que ficam na teia,
firmemente entrelaçada.
A minha
permaneceu no pulso até Junho seguinte, quando regressei a Bogotá após mais um
retiro de Vipassana. Durante esses dez dias de silêncio resolvi retirar todas
as pulseiras – tinha uma série delas, cada uma com a memória de um lugar e de
uma pessoa ‘atrapada’ no meu coração. Várias da viagem do ano anterior, cujas
recordações sorridas me instigaram a regressar ao país da América do Sul que
até ao momento mais me encheu. E a cidade de Bogotá, com as suas gentes é, sem
dúvida, malgrado a fama de perigosa, um dos lugares que me faz sentir em casa.
Em Dezembro de
2014, além do teatro e das aulas de salsa e das corridas sofridas pela
altitude, calcorreei a Séptima. A
‘Carrera Séptima’ é uma das principais artérias que percorre a capital
colombiana de norte a sul, sendo na mesma que se encontram algumas das
principais atracções turísticas, nomeadamente o Museo del Oro, o Museo
Nacional, o Planetário, o Parque Nacional – onde corri e corri e fraquejei e
fraquejei... – entre outros edifícios, como seja a La Catedral de la Inmaculada
Concepción.
Sabia de antemão
que o Museo del Oro era imperdível. Informação obtida no Peru, através de
outros viajantes que por aí haviam passado. E, com efeito, as peças de ouro,
expostas nas salas organizadas por épocas, não deixam ninguém indiferente. É
possível compreender a história das tradições andinas, assim como a evolução da
arte de trabalhar esse mineral tão precioso, quanto cobiçado. De facto, as
vidas que se perderam aquando da chegada – uma forma suave de dizer invasão
pouco pacífica... – dos espanhóis, reflectem parte dessa avidez. Foi a sala de
cosmologia e simbolismo que mais me atraiu. O xamanismo encanta-me e o modo
como este tema é explorado no museu transportou-me para épocas ancestrais.
Para além deste
museu, aproveitei a entrada gratuita no Museo Botero, no qual se encontra a
obra e colecção do artista plástico Fernando Botero. Um Maestro de Medellin,
muito apreciado e admirado em todo o país. A forma como explorou as proporções
e dimensões das figuras é uma das suas marcas artísticas quer na pintura, quer
na escultura, sendo a sua obra facilmente reconhecida.
Mas foi no
Planetário que a criança que em mim habita mais se regozijou. As histórias e
mitos por detrás das constelações enfeitiçaram-me de tal maneira, que projectei
no meu querido sobrinho mais velho, o G., o desejo de estudar e saber mais
acerca do céu nocturno. Comecei nesse mesmo Natal de 2014, oferecendo-lhe um
livro sobre o assunto. Posteriormente, levei-o para uma visita aos Planetários
de Espinho e do Porto. Quando as noites se tornarem mais longas e agradáveis
vamos observar o céu do Porto com o seu telescópio. Quem sabe as duas ursas nos
mostrem a posição da estrela polar... para melhor apreender o sentido do sul...
Janeiro, 2016
Matosinhos, Portugal
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