“Vais para a
Colômbia? Sozinha? A sério, não tens medo?”
Medo de quê?
Estivera na capital da Colômbia em finais de Novembro de 2014 e senti-me em
casa durante os dias em que me alojei no hostal Sue de La Candelaria – o
bairro mais conhecido da cidade.
Em Maio de 2015
voava novamente para o outro lado do oceano e em direcção à cidade onde
terminara a viagem de dois meses e meio no ano anterior. O valor do bilhete de
avião justificava essa opção. Pouco mais de quinhentos euros pela ida e volta
desde o Porto, com a certeza (quase absoluta) de que o regresso seria quando me
desse na real gana (aconteceu mais de cinco meses depois).
Em 2014 fui
parar a La Candelaria. A localização do hostal Sue pareceu-me
interessante: na zona histórica de Bogotá, onde os inimigos nocturnos não são
despiciendos. Em particular para quem, como eu, aterrava sozinha naquela que
dizem ser a capital do narcotráfico – em momento algum percepcionei perigo. Como usual, quando
cheguei ao aeroporto dirigi-me ao balcão de informação turística: havia
autocarros para a zona da cidade onde reservara cama. Como chegava de uma longa viagem, decidira-me por um quarto privado que incluía o
pequeno-almoço. À saída do aeroporto, apanhei o chamado alimentador, que
gratuitamente me transportou até um dos terminais do Metrobus – guardei o
cartão recarregável... – onde apanhei o autocarro até à estação das Águas (uma
das saídas para La Candelaria).
Antes de sair do
Porto, no dia cinco de Maio de 2015, reservei uma cama num dos dormitórios do hostal do ano anterior. Pasme-se quando
reencontrei Victor e Lina – dois dos amigos que fizera meses antes. Victor – de
Santiago do Chile, vivia em Bogotá há quase um ano – comemorava o seu
quadragésimo aniversário duas noites após a minha chegada. Depois de muitas
cubas livres e galhofa à mistura, fomos dançar salsa a um dos inúmeros bares de
La Candelaria – razão pela qual o bairro é conhecido em toda a Colômbia e
arredores. Se as universidades lhe dão muita vida, também os incontáveis
turistas preferem este lado da cidade, como é o caso de Kevin, com quem tive
oportunidade de dar gosto ao pé em danças de tal modo arrebatadoras que ninguém
parecia indiferente. Com ou sem modéstia, pouco importa, relevante é o facto de
haver alguém com quem partilhar uma das coisas que mais me dá prazer. Como diz
o meu querido irmão M.: “quem dança é
mais feliz”.
Quando me
despedi da senhora Dina em Dezembro de 2014 – a senhora que nos preparava os
ovos mexidos com o croissant e café para o desayuno e sempre com
as mesmas perguntas, como quem necessita escutar diversas vezes as respostas
que pouco ou nada lhe interessam –, também tive ocasião de exercitar a salsa
numa das aulas gratuitas que Freddy (funcionário do hostal) providenciava
duas vezes por semana. Pedi a Vivian que gravasse em filme a minha fraca
prestação. Vivian, outro amigo que revi em Maio de 2015.
Natural de
França, Vivian aproveitava esse facto para leccionar aulas de francês na
Colômbia. Nas primeiras conversas que desenvolvemos quando nos conhecemos em
2014, no hostal Sue, partilhámos experiências e histórias muito
pessoais; fiquei com a impressão que nos encontrámos para nos ajudarmos
mutuamente a compreender as razões porque ali estávamos. Quando regressei meses
depois, Vivian conhecera o amor da sua vida, a Johanna, com quem foi viver – convidaram-me
e eu aceitei com profunda gratidão ficar em sua casa no regresso de um retiro
de meditação.
Foi em casa
deste casal que a mochila ficou indelevelmente marcada pelo gato de estimação de
Johanna. Uma recordação em forma de cicatriz na mão com que escrevo: quatro
meses depois de sair de Bogotá, um gato mexicano, muito cioso do seu território
mordeu-me; mostrava-me assim a necessidade de ter cuidado com o sítio onde se
deixam as coisas.
Entretanto,
Vivian e Johanna casaram e no momento em que escrevo encontram-se a viajar na
terra natal de Vivian – a segunda lua-de-mel, na cidade da luz.
Janeiro, 2016
Matosinhos, Portugal
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