Na biblioteca*



Na biblioteca...

      As bibliotecas são relembradas no primeiro dia de Julho. A exemplo de outras datas, se existe a necessidade de comemorar certos acontecimentos, pessoas, lugares, provavelmente deve-se ao facto de serem ou estarem esquecidos. 
      Lembro-me de quando era miúda - passava parte das férias grandes em Nogueira do Cravo, em casa dos avós - e ficar muito espantada e encantada com a chegada de um autocarro diferente. Era a biblioteca itinerante! Uma das leitoras assíduas era a Sónia. Ficava extasiada pela possibilidade de ir a uma estante e pegar num livro para ler durante algum tempo, como se fosse meu. 
      Actualmente não passo muito tempo em Nogueira. Não sei, pois, se a biblioteca mantém o seu itinerário pela aldeia. O hábito, esse, mantém-se. As bibliotecas são lugares especiais, para mim. Sinto-me invadida pelos livros que habitam as prateleiras atrás de prateleiras. Passo muitas tardes a ler e a escrever em bibliotecas. Nunca me sinto só. Se um livro não me cativa, pouso e pego noutro. É tão fácil! E é tão fácil ler e levar para casa. Não há desculpas. O preço dos livros - na maioria dos casos elevado, é verdade (pelo menos para mim) - não me impede de aprender, ler, conhecer outros lugares, outras pessoas, outras vidas. 
      Em quase todas as povoações existe uma biblioteca. Em caso de tal não acontecer, passa de quando em vez um autocarro a fazer as vezes. 
Iguaque é uma pequena povoação no interior da Colômbia. Onde me encontro neste momento. Duas dezenas de casas, uma igreja, algumas lojas ou tiendas (em espanhol), um centro de saúde e a Alcadia (o equivalente à junta de freguesia). Está em construção um pavilhão desportivo - o que muito me apraz. Existe ainda uma pequena escola e uma biblioteca! Tem tudo! Até internet sem fios. O que quer dizer que se podem pesquisar ainda mais bibliotecas por todo o mundo.  Não há pois, desculpas, para não entrar numa biblioteca, nem que seja virtualmente. Assim como não há como justificar a falta de um livro para ler. 
      Existem outras datas importantes neste mês. Entre elas, no dia vinte, o dia do amigo ou da amiga. Ter um amigo ou amiga. Ser amiga (no meu caso) é uma das dimensões mais importantes da minha vida. Gosto do provérbio: "quem tem amigos não morre na prisão!" Estou sempre a salvo! Obrigada a todas as pessoas que aceitam a minha amizade e me guardam no seu coração, assim como eu as guardo no meu!
      Na amizade não há promessas. Não é necessário. Diferentemente da família, os amigos escolhem-se, ou somos escolhidos. Os contratos, os laços de sangue estão ausentes. O que está presente é somente, e  muito, o afecto. A quantidade é o menos relevante. O que importa é sentir que se se precisar há alguém que escuta, alguém que abraça, alguém que dá a mão. Estou sempre de mão dada. Mesmo que neste momento tenha um oceano a separar-me fisicamente dos meus grandes amigos e amigas, o sentimento que nos une é um porto de abrigo. 
      Não me refiro aos amigos das redes sociais. Se é verdade que muitas pessoas são amigas, também é verdade que conheço mal grande parte. Ainda assim, esta possibilidade mais ou menos virtual ajuda-me em certas situações. Infelizmente, conheço pessoas cujos únicos amigos que têm são esses que conhecem pelas fotografias. Talvez lhes surja a oportunidade de conhecerem pelo menos um desses amigos pessoalmente e quem sabe vir a sentir a verdadeira amizade. Quem sabe...
      No dia vinte e seis comemora-se o dia dos avós. A crónica do ano passado foi dedicada sobretudo a estas pessoas tão especiais. De todo o modo, é-me impossível passar ao lado e aproveito o privilégio deste espaço para dizer à minha querida avó que é uma pessoa linda.
      Conheço muitos avós. Desses, não há nenhum que não tenha como maior prazer na vida estar com os seus segundos filhos. Se o leitor ou leitora for neto ou neta, pode sempre aproveitar a deixa e fazer um telefonema, se a distância o exigir. Se estiver próximo ou próxima, que tal fazer uma pequena surpresa aos avós?

* Texto publicado no Jornal Chapinheiro

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