Natal à mesa...*



O mês de Dezembro remete-me necessariamente para a época natalícia. Como não? É provável que para muitos leitores e leitoras também. Afinal, para quem vive em Nogueira é um tempo de rever os familiares mais distantes.
Passei muitos natais em Nogueira e, naturalmente, com os pés à lareira. O frio tem destas coisas: convida ao recolhimento e, de preferência, com a lareira acesa e muito juntinho daqueles que nos são mais queridos. É também disso que se trata no Natal: juntar a família e os amigos à mesa, repleta de iguarias.
E que delícias em Nogueira! As filhoses tão saborosas da avó! O arroz doce da tia Maria decorado com canela. Da minha parte ultrapasso a noção de decoração. Gosto muito, muito de canela nesse arroz que não me atrevo a provar em mais lugar algum. Também os sonhos... Ah! Os sonhos!
Quando vamos passar o Natal em Nogueira, levamos a cesta cheia do Porto, nomeadamente com os formigos e as rabanadas. Em relação a estas, que me perdoem aqueles que as confeccionam, mas as da minha tia Teresa são incomparáveis! Nunca tive o prazer de comer rabanadas tão boas como aquelas que a tia Teresa tão amorosamente prepara a mais, para quantas mesas lhe pedirem. Obrigada tia!
Além destes e doutros deleites, em casa de quase todos os nogueirenses a mesa de Natal tem obrigatoriamente um queijo da Serra. A minha boca saliva só de pensar nesse queijo que não tem competidor à altura. Pelo menos para mim. Quando é amanteigado e barrado no Pão de Ló ... Não tenho palavras para descrever a macieza e o contraste do sabor doce e salgado que o meu palato degusta. Ah! O queijo da Serra!
Da Serra da Estrela! A montanha mais alta de Portugal. O dia 11 de Dezembro é o dia internacional das Montanhas. Sinto-me, pois, impelida a evocar as serras, as montanhas, as cordilheiras de todo o mundo. Lugares sagrados por excelência.
Sou amante das montanhas. Nas últimas semanas tenho tido o privilégio de me sentir muito, muito pequena face à Cordilheira dos Andes. Na realidade, sempre que estou no silêncio dos vales e montanhas, é desse modo que me sinto, um nada na imensidão da Natureza.
Um dia destes conheci uma montanheira. A Cristina, do Chile. As suas palavras tocaram-me profundamente. Quando está no cume de uma montanha, a Cristina sente que está muito próxima de algo transcendente. Como se tocasse noutra dimensão para além da sua existência terrena. Algo inexplicável, a Verdade? Acrescentou em tom interrogativo.
Conheço alguns alpinistas, como João Garcia, o único português que já subiu às catorze montanhas com mais de oito mil metros! O João, tal como muitos outros, afirmam solenemente que quando alcançam o topo de uma montanha muito alta é como se atingissem um espaço para além da sua fisicalidade. É aí, também, que reconhecem a sua pequenez.
A vastidão das serras, montanhas e cordilheiras mostra-me como a minha vida é insignificante no tempo e no espaço em relação à grandiosidade da Natureza, da vida. Ao mesmo tempo, concede-me esperança e uma paz tão extraordinária que me sinto a viver a perfeição. Foi num desses momentos que também Cristina, a chilena que conheci no deserto de Atacama, se sentiu perfeita. Dizia ela: "Quando estou no silêncio das montanhas mais altas, compreendo a perfeição da Mãe Natureza. E se eu faço parte da Natureza, então eu também sou perfeita."
Ora aí está! Quero lembrar-me disso. Eu também sou perfeita. E a leitora e o leitor? Feliz Natal! Que este seja um Natal ainda mais perfeito. De preferência com as pessoas mais queridos e com os pés debaixo da mesa, repleta de coisas boas e muito perto da lareira. E claro, com muitos e muitos abraços apertados!

*Este texto foi publicado no jornal Chapinheiro

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