Carta ao Pai Natal







Querido Pai Natal


Chamam-me Ana Luísa e não sei muito bem quantos anos tenho. O calendário diz que estou quase a fazer quatro (mais trinta e seis) anos... mas sinto mesmo que esse calendário está um bocadinho esquisito. A cada dia que passa fico mais confusa com as horas que se me atravessam. Às vezes tenho a sensação que também sou um caso curioso, como o Benjamin Button... pelo menos no que toca aos pensamentos e sentimentos... cada vez mais infantis.
Isso parece-me ser uma boa coisa, sem querer contudo estar a fazer julgamentos. Mas exactamente por isso, senti esta espécie de compulsão: escrever-TE.
Sabes, é que este ano sinto que realmente fui uma menina bem comportada. Quer dizer... nem todos pensam da mesma maneira, mas só a mim e a TI isso importa. TU viste! – eu senti que estava a ser sempre observada por TI. E sabes, tenho mesmo a impressão que alguém me protegia em cada momento. Serias tu? Talvez sim: daí que esta carta seja mesmo para TI. Se não te importares, partilha-a com tod@s aquel@s que estavam ao TEU lado nesses momentos, protegendo-me... basicamente Sempre!
Querido Pai Natal. A minha lista de prendas é muito vasta. E só TU ma podes dar. Antes disso, quero dizer-te uma coisa.
 Muito obrigada! Muito obrigada por cada minuto que vivi, por cada pessoa que esteve comigo mais ou menos tempo... essa coisa do tempo é muito relativa. Houve pessoas com quem estive apenas uma hora, mas que me ficaram para sempre. Obrigada por cada ser que se integrou em mim, transformando cada célula. Deve ser essa a razão porque me sinto progressivamente intemporal...
Muito obrigada por cada lugar que se inscreveu em mim... hoje o meu espaço não é meu: é o infinito – a potencialidade total de ser e estar em qualquer lugar, com qualquer pessoa. Hoje sou, estou imensamente vasta. Muito obrigada!
Em relação à minha lista... é esta: a consciência em cada minuto, cada hora, para, desse modo, escutar e estar atenta a cada pessoa e lugar: só assim posso desfrutar plenamente cada instante precioso que me é concedido viver.
E pronto! Acho que já é muito... esta coisa de viver apenas no presente é um presente nem sempre simples e fácil...
Querido Pai Natal, para terminar gostaria ainda de acrescentar que tenho muito a aprender, por isso, se não TE importares, podes também deixar-me... mas onde? Ainda nem a árvore de Natal fiz! Ah, já sei... podes deixar um pouco de magia nos olhos de tod@s aquel@s que se cruzam comigo, para que eu me lembre que somos todos muito... basta que queiramos!
Obrigada
Ana Luísa

PS: esqueci-me de dizer-TE que gostaria de poder voltar a deslocar-me de bicicleta para todo o lado... obrigada!

A Carta de amor: a única!




11/12/13
Querida Ana Luísa, meu amor

Cheguei-me. Dornes Re-velou-te-me. Hoje quero dizer-te com toda a minha totalidade que te amo profundamente. Já to afirmei novecentas e noventa e nove vezes. Hoje é a primeira vez que me declaro sem ser apenas em palavras. Basta de palavras! Sabes isso melhor que ninguém... com toda a certeza!
Quero expressar-te que finalmente te escuto, que finalmente olho para ti – sem espelhos; sem reflexos. Sem dúvida que o espelho foi muito útil para te reparar mais. No espelho vi-te em mim. Vi o que sabia mas não reparara assim tão bem. Como és linda, como os teus olhos brilham e como expressam tanto... sem que eu tivesse visto.
Hoje quero revelar-te que me revelei em ti. Chego-me a casa, a ti... era tão fácil: sempre estiveste aqui!
Sei o que precisas. E eu dou-te! Recolho-te ao meu colo e embalo-te amorosamente. Trago-te até ao meu coração – que agora se abre plenamente: a ti! Cuido de ti: és a minha adorada filha. Protejo-te no meu colo, aqueço-te – embriago-te de amor!
Faço, farei tudo o que pedires. Sei que tudo o que peças é o que mais precisas. Por isso, ouço-te, reparo-te, faço-te: amo-te. Muito! Revela-me sem pudor, sem vergonha, sem receio e serei tudo o que queiras. Serei tudo contigo. E tu: és muito! Tu és extraordinária. Extra em tudo e ordinária também. Sê tudo, o extra e o ordinário! Sê todas as crianças, adolescentes, mulheres e outros eus que habitem em ti. Não mais calarei uma só voz, uma palavra tua.
A todos esses eus eu acolho e serei com toda a minha presença neste presente. Cuido bem de todas e qualquer que queiras ser em cada instante. Apenas e tanto tu! Tu! Eu! Tu e Eu. Sempre aqui abraçadas amoravelmente.
Um xi-coração
Ana Luísa

Um pneu furado... escutando Keith Jarrett



Clica para ouvir : http://www.youtube.com/watch?v=1FqH9mtxJnQ


Um pianista desabrido. Um pneu furado. A vida às vezes prega partidas. É uma brincalhona. O pianista de negro à frente do seu piano branco. As teclas quase marteladas em delicadeza sentida. Um carro parado com a roda congelada. Uma vida serpentina e às vezes enigmaticamente labiríntica.
As notas sucedem-se sem pausas. Os dedos sempre atentos à leitura da pauta quase desnecessária. O macaco fundamental para que o pneu seja trocado numa estrada deserta, sob o céu em lusco-fusco. É quase noite. O rádio sempre a tocar. O pianista não pára! Umas vezes mais veloz, umas vezes menos rápido. Sempre num ritmo que se paira entre o estonteante e o agitado. O pneu tem de ser mudado. O porta-bagagens tem um sobresselente. Antes disso é imperioso colocar o sinal de perigo. Vá se lá saber se a vida está com mais ou menos humor, mais ou menos negro.
O jovem isolado numa via sem movimento é que não sabe se por ventura vem de lá, sabe-se lá de onde, um qualquer condutor mais ou menos desvairado e emaranhado em congeminações. Não é de arriscar. Antes de arregaçar as mangas para a substituição, o rapaz em vestes negras enverga o colete em florescência para se fazer notado, no caso de vir alguém distraidamente com pressa.
O pianista continua o seu périplo musical acompanhando os pensamentos do jovem atarefado em questionamentos de última hora. Mas não vale a pena gastar muito tempo nesse trabalho intelectual. O manual é o requerido para o momento numa via pouco iluminada e sem vida humana à vista. Os animais nocturnos estão já à espreita. O condutor em azar pressente esse odor animalesco que o cerca com tanta ou mais rapidez que as teclas no interior da viatura que não se aquietam. É de propósito. A música a solo de um instrumento imponente proporciona a banda sonora ideal a quem está só, numa estrada sem vivalma ladeada por pinhais cada vez menos visíveis. O que se começa a perceber são uns olhos curiosos a aproximarem-se da berma. Quem sabe a companhia perfeita de quem tem mesmo de se apressar se não quer chegar ainda mais atrasado para o primeiro encontro, ainda por cima em casa dela.
Dela quem?
O pneu está mesmo furado! “Bolas!”, o queixume silencioso de quem não tem a quem se queixar e muito menos quem o ajude no meio do nada. As mãos sempre muito tratadas, tal qual as de um pianista. Não as do que escuta no rádio num concerto em Colónia. As suas, mil e umas vezes lavadas por dia. Perde a conta à quantidade de água que as suas extremidades conhecem, a fim de não conhecerem as impurezas que a vida providencia. Impurezas da vida. Desta vez é muito mais que isso. Não só as mãos vão ficar que nem esterco oleado, como ainda serão forçadas a um esforço que pensava improvável. Hoje, em particular. Afinal de contas é o seu primeiro encontro. Ainda por cima, em casa dela!
Dela quem?
O melhor é não pensar nas travessuras da vida, neste caso do prego impecavelmente posicionado para o crime perfeito. Um furo no pneu da frente no carro de alta cilindrada. Acabadinho de comprar. Preto, lustroso, macio. Assim estavam as suas mãos, aparte da coloração, apenas a roupa no mesmo estilo. Apenas o exterior. O interior vinha em exultação estimulada pelas teclas imparáveis no mesmo ritmo do coração em tumulto apaixonado. Apaixonado desde que preciso momento? O jovem que se prepara psicologicamente para a mudança do pneu transporta-se para esse primeiro ápice, quando os seus olhos se pararam nos dela.
Dela quem?
Não há muito a preparar sob o ponto de vista psicológico. Apenas e só pegar no macaco para elevar o carro. Parece fácil, lamentou-se uma vez uma amiga em apuros que lhe telefonou desesperada porque não encontrava o material necessário para essa empreitada. É fácil, a resposta peremptória. Hoje, nada parece ser assim tão simples. Nada disto lhe apetecia – como é óbvio. Mas quem é que quer chegar atrasado ao primeiro encontro, quando a cabeça está ocupada com tudo menos com a racionalidade, quando o coração estava quase no seu ponto de estrada... ah, ah, pensa o jovem recentemente apaixonado enquanto encaixa o macaco no sítio certo do carro numa estrada pouco acertada. O carro... novinho em folha. “Caramba, mas porquê?” As queixas à vida que o retém num caminho que mais parece o cenário de um filme que podia ser de terror. O céu cada vez mais escuro, sem a lua que está quase a ser nova e as estrelas... essas, pouco visíveis. Vê melhor alguns olhos que quer confiar amigáveis. A vida não pode ser assim tão arisca com ele. Já lhe bastou o susto provocado pelo estrondo vindo do nada. Logo hoje! Hoje que tem o seu primeiro jantar a dois em casa dela.
Dela quem?
Por ora, ela não é a principal ocupante dos devaneios. Desviou-se do sorriso aberto e timidamente sedutor que o encantou. Não é o momento para se voltar a perder nesse instante que se tornou decisivo. Decisivo é desapertar as porcas do pneu. Porcas ficam as mãos e porca está a ser a vida. Porcaria de prego na porcaria de estrada sem iluminação decente. Decência, decente... assim queria que a sua figura se apresentasse ao tocar à porta dela.
Dela quem?
Aquela que aceitou o seu convite para um café depois de dias a fio em palavras expressas pelo silêncio revelador de olhares continuamente à procura de serem correspondidos. A correspondência sempre em sincronia por um sorriso tão vasto, quanto tímido. Assim lhe parecia – ao jovem que agora não pode estar com essas lamechices de apaixonado. Tem mesmo é de desaparafusar as porcas. E de novo se concentra na tarefa.
Enquanto se foca no pneu não se perde na estrada perdida sem almas perdidas para o acompanharem nesta missão. Nem o brilho do carro em estreia lhe abrilhanta o semblante. “Já está!”. Primeira parte concluída. O pneu furado no chão. Coloca-o debaixo do automóvel, não vá o macaco macaquear e pregar-lhe uma partida com tão ou pior gosto que a vida. Ai a vida... Uma brincalhona. Olha para as mãos... porcas. O que vale é que apesar de novo, é um homem precavido e os toalhetes de bebé estão no porta-luvas. Lembrou-se disso em boa-hora. Em boa-hora é que não foi este prego aparecer nesta estrada de silêncio apenas quebrado pelo pianista que continua a tocar sem descanso. Mais parece que sabe a ansiedade em que se encontra um homem novo em plena preparação para um primeiro encontro. Esta parte da preparação estava fora dos planos. Um furo no pneu. Que interessa agora o que pensa o compositor americano... Encaixa o pneu sobresselente. Aperta as porcas. As porcas, as mãos... espera que os toalhetes sejam suficientemente poderosos para tocar a campainha sem vestígios deste malfadado imprevisto. Logo hoje, a primeira vez que se verá a observar os movimentos da mulher tão jovem quanto ele, na intimidade. Sempre lhe pareceram graciosos no local para onde se tem deslocado todas as tardes. Em parte por ela.
Ela quem?
Calma, está quase, as palavras interiores para calar o exterior. Esse olhos incandescentes e anónimos de pretensos animais. Que quererão eles; talvez que apenas matar a curiosidade, tal como a dos gatos – confia. Ou então estão ali para lhe dar a luz necessária para mudar o pneu – confia. Talvez que a vida seja somente brincalhona neste momento em que música acelera a cadência por outras mãos agitadas que se fazem escutar pelo movimento frenético. Frenético, assim está o moço aperaltado na fase final da sua inesperada tarefa e que lhe suja veementemente as mãos. Essa parte do corpo que se afundará noutra que o espera. As mãos dela... oh...
Ela quem?
A rapariga loira por quem se enamorou no lugar costumeiro das últimas semanas. Tomou a decisão de sair de casa para estudar para o exame que lhe dará entrada na ordem dos advogados. Escolheu um sítio que há muito conhecia... de nome. A esplanada da praia do Aterro. O sol convidava. Porque não? Sempre é mais agradável que a sua casa obscuramente resguardada dessa luz de Primavera avançada. Pelos vistos ela pensou da mesma maneira, confidenciou quando ultrapassadas as barreiras da timidez. Também aí se dirigia para se afastar não da luz mas das dispersões provocadas pela vozes cansativas do mundo virtual.
O pianista recebe agora os aplausos em Colónia. O pneu aparafusado entretanto. O brilho disperso da sua companhia desconfiada permanece. Ainda bem... Ainda necessário para arrumar o resto da tralha. A vida até que pode ser amiga. A providência que a estrada não lhe proporciona. Na rodovia nem um carro, mais ou menos novo para lhe dizer que o tempo prossegue. Só mesmo os seus movimentos em terminação lhe transmitem os minutos incessantes. Nem olhou para o relógio. Para quê? Isso não alteraria a probabilidade mais do que futuramente comprovada de que chegaria atrasado a casa dela.
Dela quem?
Aquela que aceitou o convite para partilhar a mesa da esplanada. E ali ficaram horas em sussurros. Como foi afinal? Ah, já se lembra. Nesse dia, não muito distante do de hoje. Hoje – quando se transporta finalmente para a concretização de um sonho sonhado três noites. O de estar apenas e somente com ela. Gostará ela de Keith Jarrett? O seu músico preferido que tão estranhamente se junta ao seu instrumento. Às vezes parece um tanto louco. O modo como se levanta para tocar, remexe-se todo, mais parece que em transe. Que interessa isso agora? Os toalhetes, isso. Ainda bem que os tem. Que pensará aquela que se juntou a ele no primeiro dia... da sua vida. As duas tardes seguintes foram em constante partilha de ideias, de toques também. Até que... quis convidá-la para jantar. Não aceitou. Oh... numa reacção rapidamente ultrapassada. Ela estava a acabar um curso de cozinha vegetariana e precisava de experimentar o que queria apresentar na sua prova derradeira. Oh... com outra entoação – muito díspar. A surpresa surpreendente. “Em tua casa?” a pergunta engolida em seco. “Claro que sim...” Na casa dela.
Dela quem?
Nem sabia o que pensar. Essas coisas não se pensam, sentem-se, mas isso já se sabe. E ali estava ele a limpar as mãos o melhor que podia, ao mesmo tempo que o seu olhar estava agora pregado nos outros que o iluminavam. Não saíram dos seus lugares noctívagos. Nem por isso menos resplandecentes e muito úteis. “Obrigado”, escutou-se. Esses animais, que não chegou a ver para além da fulgência, também ouviram e desapareceram tal como assomaram. Sem ruído. Sem ruído continua a estrada que continuará então. Tudo pronto para continuar até à morada escrita num papel ontem ao pôr-do-sol. Ontem... onde já vai esse dia. Hoje. Hoje é o dia que vai a casa dela.
Dela quem?
Essa mulher jovem com quem passou as últimas tardes na esplanada. Eram só os dois que ali estavam, na cápsula que os envolveu e em que mais nada existia. Amor à primeira vista? “Isso não existe”, o seu amigo de infância. Claro que sim, calou. É o que está a viver. Neste momento não tão intensamente... a estrada tem de ser a única coisa a prender a sua atenção se não quer tardar ainda mais. O pé carrega no acelerador. Testa então a pujança apregoada na alta cilindrada que lhe aumenta os impostos. Que importa isso face ao aparato que tem conseguido sempre que estaciona? Todos os olhos de cobiça em cima de si... Não foi por isso que escolheu essa marca. O pai assim o presenteou: “Um bom advogado tem que marcar presença desde o primeiro momento!” Sem muita convicção anuiu, como em tudo na vida até à tarde em que conheceu a mulher que deseja sua. Sua, mas quem é ela?
Ainda não lhe sabe muitas histórias, mas as que o adentraram foram mais que suficientes para se ter a certeza que é ela por quem sempre esperou. Como sabe? Essas coisas não se lhes responde a razão. O seu coração sempre em arritmia desde então lho assegura. Quem diria? Um quase advogado guiado pelo sentimento... Que quererá isto dizer? Que importa isso agora! Tem mesmo é de prestar atenção ao caminho, não vá a vida assustá-lo mais... uma vez...
Não se terminou nesse devaneio. João Cabral acabou de embater ruidosa e catastroficamente numa árvore antes invisível... para si. Conheceu, pouco, e da pior maneira possível. O que não conheceu de todo foi a intimidade da casa de Mariana... Aquela que esperou durante toda a noite pelo amor que também acreditava ser o da sua vida.
O carro em choque continua de rádio ligada a fazer ouvir as teclas sublimemente tocadas. O pianista negramente vestido abrandou estranhamente o ritmo noutro concerto, o que soa agora é o de Molde. Adivinharia o músico que seria a banda sonora de um cenário triste de um amor estranhamente incompleto... nesta vida?

A primeira vez que me perdi






A primeira vez que me perdi... Não é fácil resgatar esse momento, tão-somente esse é o estado que me caracteriza desde pelo menos os dezassete anos. “Quando foi que me perdi?” – a questão que me coloquei há pouco tempo e a L respondeu com uma fotografia. As duas em fato-de-banho na piscina do Castêlo. Eu de indumentária de nadadora-salvadora... dos outros.
Nesse ano entrei para a faculdade para nunca mais encontrar aquela garota de vermelho jovial e resplandecente, qual baywatch das séries televisivas.
Em termos concretos sou completamente desorientada. Uma das razões que me leva a sair de casa com antecedência para os encontros em locais que desconheço. Horas a fio em busca do evidente: bastaria saber ler um mapa.
Ninguém acredita quando digo que tenho troféus das provas de BTT-Orientação. É verdade! São duas ou três taças em segundo e terceiro lugares. Em 2000 éramos muito poucas, as mulheres, a sair de bicicleta-todo-o-terreno com um mapa a orientar o percurso. Adivinha-se facilmente que terei conseguido as taças por sermos apenas duas ou três concorrentes vestidas de calções almofadados e capacete. A feminilidade estava de todo escamoteada.
Que importa isso face à sensação de solidão desesperada no meio do monte? Um trilho de terra batida ladeado por campos de cultivo de milho de um lado e um pinhal do outro. O cruzamento sob a chuva fria e eu sem perceber o Norte no mapa e muito menos pela localização do sol – ofuscado pelo cinzento carregado: “Oh meu deus! Mas porque é que não fiquei no sofá a ver a televisão?”
As encruzilhadas são manifestamente bons testes, neste caso à resiliência de quem se sabe perdida por natureza. Virava-me para um lado... a bússola? Acho que não funcionava... para mim nada disso é útil. Pedalei insegura pelo lado esquerdo, talvez – seguindo esse trilho do coração. Ao fim de quatro horas chegava à meta. Apenas os juízes da prova. Estavam à minha espera para fechar o estaminé...
Os episódios e as dificuldades em encontrar o destino são tão frequentes que por vezes fico na dúvida quanto à significância dessa metáfora na minha vida.
Perder-me tem, no entanto, vantagens. Antes de alcançar o lugar final percorro novos espaços, ruas diferentes, que me tocam de modos distintos. Também se atravessam pessoas antes desconhecidas.
Em suma: estar perdida obriga-me a procurar e sobretudo a despertar para o momento, local e pessoa que entram em mim. Bem-haja o mapa que me (des)orienta!

A minha professora primária. Memória da reguada!




Escola n. 25 dos Olivais Sul. Professora Carolina. Uma reguada – a única entre a primeira e a terceira classe. Não me lembro da razão porque a senhora professora Carolina, alta e esguia, ousou ferver a palma da minha mão com uma régua de madeira. Ui! Ai! A mão a querer fugir desse instrumento punitivo. Quem o segurava e, ao mesmo tempo, tentava apanhar a minha mãozita com seis ou sete anos era a professora de bata branca.
Não tenho qualquer recordação das cores com que essa senhora de cabelo curto muito preto se vestia. Era sempre de saias e frequentemente com alguma roda, dando volume à parte inferior do seu corpo elegante, para nós, tão alto. A altivez era apenas na compleição – a voz era segura e com autoridade era equilibrada com a entoação de alguém que gostava de ensinar crianças. Na sua secretária era raro sentar-se. É de pé que os meus olhos infantis a vêem com o giz no quadro negro ou com as mãos nos bolsos - assim ficava  enquanto aguardava que terminássemos os trabalhos escolares, como contornar um desenho de um animal premindo o papel numa esponja com o pica-pica.
A reguada terá sido eventualmente merecida – tenho, hoje, uma vaga ideia. Fiquei a brincar mais tempo ao elástico com as minhas coleguinhas da turma no recreio que desejava mais longo. Talvez a Isabel, a sardas, fosse uma delas.
Houve mais uma. Só mais uma. Era muito certinha. Na escola primária da Ponte, no Porto, na quarta classe. Um ano diferente. A chinesinha – assim me chamavam os meus coleguinhas, quase todos muito mais velhos, quase todos repetentes – pelos olhos que se fechavam quando me ria. Estava sempre a rir. Agora também estou quase a sempre com o rosto aberto. Para quê fechá-lo? Em cada fechamento, menos uma oportunidade de ser feliz.
O curioso é que também não me lembro da razão de ser de tal castigo. A memória tem destas coisas. Muito selectiva. Ora para nos proteger, ora para nos poupar de situações pouco relevantes e, consequentemente, para não ocupar espaço. Não sei em qual das duas cabe o esquecimento. Talvez preferisse ter continuado em Lisboa e queira (inconscientemente) esbater esse ano.
As reguadas... Duas. Suficientes. Muitas. Demais diria. A punição não tem necessariamente de ser física e pode até ser que nem as merecesse. 

Eu e o meu mano... uma memória vermelha

            Confirmado! Fui verificar ao espelho. Não me lembro sequer de reparar na marca entre a boca e o nariz... empinado – assim mo caracterizam em tom de crítica; eu acho que pode ser uma boa faceta se moderada; penso até que a sua forma é menos empinada. Uma cicatriz em cruz. Agora que escrevi isto fico apreensiva... carrego uma cruz.
            Essa cruz remonta à minha infância. Teria sete ou oito anos. O meu querido mano é o responsável! Menos três anos que eu; muito mais afoito. “Era muito pacata, muito sossegada”, diz a minha mãe comparando com o traquina do meu irmão que não se aquietava por cinco segundos.
            Vivíamos na Portela de Sacavém – Lisboa... oh que bons tempos. Eu e o meu mano no meu quarto. Tinha uma varanda no nono piso. O céu era o infinito. Um dia – à noite imagino; passávamos as horas diurnas nos Olivais –, eu e ele a brincar. Os legos. Mas não só: uma pistola de brinquedo. Só de nome, tal era o peso do objecto para as mãos infantis. Não é despiciente essa massa de ferro – assim a memória mais ou menos deturpada a invoca. Eu sentada na cama. Ele no chão aos seus pés. Uma cama em contraplacado com cantos muito bicudos: outas armas em potência.
            A diferença de idades não era sinónimo de superioridade da minha parte. Tínhamos o hábito de andar à bofetada. Ora ele, ora eu. Ninguém queria ficar atrás. A última a bater tinha de ser sempre eu. O último a esbofetear tinha de ser sempre o meu mano. “Oh mãe, o Miguel bateu-me... foi ela que começou!”; “Oh mãe, a Ana bateu-me... foi ele que começou!”
            A sua irreverência contrastava com a minha pacatez. “Filha da p...a!” Com quatro ou cinco anos duvido que ele, ou mesmo eu, soubesse o que dizia. Eu estava apenas consciente que ele acabara de dizer uma expressão muito feia. Em Lisboa, então... – quando vim viver para o Porto esse foi um dos choques. “Vou dizer à mãe que disseste uma asneira”, a bela da queixinhas. “Não vais nada! Senão dou-te com a pistola na cabeça!” E não é que ma atirou?
            Ao fugir desse arremesso beligerante caí e bati com o rosto numa das pontas da cama. E sangue, muito sangue vermelho; muito vermelho no chão a jorrar do meu nariz. O meu mano gelou! Tinha medo desse fluído rubro. Quando a minha mãe o queria sossegado: “Cuidado Miguel, tens de ficar quietinho. A tua orelha tem sangue”. Ali ficava por alguns minutos. Nesse dia estava mesmo assustado. O seu choro ganhava às minhas lágrimas pelo sangue que escorria na cara.
            “Não é preciso chamar os bombeiros, pois não?” Será que era a sua cor que o assustava igualmente? “Oh mãe, não é preciso chamar os bombeiros, pois não? A mana vai ficar bem, não vai mãe?”

O meu primeiro beijo

            O meu primeiro beijo. Com ou sem língua? O primeiro foi um xoxo. Doze anos. Férias no Algarve – Cabanas de Tavira. Várias casas geminadas. Várias famílias em partilha ao fim da tarde e noite. No calor de Agosto o cinema ao ar livre. Filmes indianos pouco interessam a crianças quase adolescentes. Eu e o Luís. Ele mais novo que eu – a minha sina. Luís – a minha sina também no nome. Cabelos loiros encaracolados ao meu lado na primeira fila a ver – pouco – os actores coloridos em dança pegada no écran.
            Os dois juntinhos. Do parque do cinema para o terraço da sua casa vizinha à minha, alugadas por quinze dias à beira-mar, cheios de bolas de Berlim – sempre sem creme. Noites de estrelas, muitas. O céu limpo: o cenário ideal para os amores de Verão. Paixões pouco desabridas mas que marcam a memória de quem se lembra desse modo inaugural. Um beijo nos lábios. O primeiro!
            Velhota! Assim se me designou o garoto de rosto angelical. Estreava-me nesses gestos amorosos. O Luís... A sensação dos seus lábios nos meus é vazia. Ao contrário do segundo beijo, mas com língua: outra estreia um ano depois.
            O Miguel B. A sua língua dentro da minha boca. Isso é algo que ainda hoje me arrepia. Uma vassoura a limpar todos os cantos à casa num frémito inusitado. Que coisa horrível num campo de férias dos convívios organizado por frades. As semanas de Agosto para juntar jovens em fé num convento de freiras preparado com camaratas femininas bem distantes das masculinas. O que não coibia os adolescentes em processo de maturação de se tocarem.
            Aquela língua na minha boca a revolver cada dente com a precisão de um instrumento de limpeza que quer lavar com pormenor todas as impurezas. Um objecto estranho na boca com o poder contrário ao da purificação. Nojo! Não mais olhei para o rosto em branco na memória de quem não esquece esse beijo que de romântico só a noção de inauguração.

A vida é o que tu contas a ti próprio!




Que história te queres escrever?
Que história estás a viver? Um conto de fadas? Um filme de terror? Uma história de amor? Uma tragédia?
Escreve-te e sente-te. Escreve e vive-te! A vida é infinita. O espaço que te oferece é aquele que tu estiveres dispost@ a abrir. Um quarto escuro. Uma pradaria. Se te permitires à criatividade e imaginação que habitam no teu coração perceberás o quão amplo pode ser o teu ser.
Já te apercebeste que podes escutar a história cósmica na noite que te adormece? As estrelas têm infinitas viagens para ti. Podes escolher ficar-te na rede que te entretece num labirinto sem saída. Podes escolher descobrir o que os caminhos esquemáticos te oferecem em cada nó ultrapassado em consciência.
Escuta as vozes do além. Tanto têm para te sussurrar: queiras tu ouvir amorosamente. Celebra-te em cada instante que te é concedido viver. A vida não é garantida. É na sua precariedade que reside o mistério de uma felicidade que não se procura amanhã. Está sempre aqui a possibilidade de desfrutares o momento presente. Um presente! Aqui, agora... o presente que te presenteia por cada inspiração. Atenta no ar que inalas e perceberás que a sua qualidade é igualmente precária.
Quando foi a última vez que sentiste que o ar que respiravas era efectivamente puro? Lembras-te da sensação de libertação que te proporcionou? Porque continuas amarrad@ ao que sabes que não te satisfaz? E porque será que não te satisfaz? Senta-te. Pega numa folha em branco e preenche-a com os teus devaneios. Esses talvez mais lúcidos que a vida em que te prendeste. Escreve-te com o que é mais profundamente verdadeiro em ti. No silêncio escuta as profundezas do teu ser. Sê @ detective de ti própri@ e descobre-te. Sê autêntic@! És tu @ criador@ da tua vida. A única possibilidade que te podes conceder, ser @ autor@ da tua história.

Tu em mim






 
Tu em mim

Hoje despertei e
vislumbrei
o nada que sou
a nulidade em mim
sem ti,
sem ti,
sem ti.
Tu, tu e tu e tantos tus
são em mim o que sou.
                 

A saudade... de uma tesoura

 



Uma tesoura na secretária. Isolada em si. Ninguém se recorda da sua existência, apesar de ter sido claramente útil em outros tempos. A falta que se prende nesse objecto cortante é a angústia de quem sente uma saudade intransponível.
Afiado, ainda, esse objecto solitário pousado numa mesa vazia. A solidão que a preenche completa-se no modo metálico que se rasga em dois. Num grito mudo pede o colo a que já não tem direito. Essa autorização levou-a a infância macia de uma anatomia perdida. Mesmo que se mantenha acerada e prestável, a falta de se sentir em falta apenas a si lhe assiste. Não há tempo que lhe traga a fraqueza de um adeus inevitável e para sempre esquecido. Não é só por si que deseja cortar, golpear, lacerar, sulcar de novo, nem que seja por um segundo... não muito rápido.

Cinzas às Cinzas! ... a partir do ‘Diário íntimo’ de Manuel Laranjeira



   
     Cinzas às cinzas! Assim amordaçou as suas infinitas especulações íntimas. Arquitectou um grande amor que era tão falso como o cinzento que lhe preenchia as madrugadas da cor da terra. Saiu-se da vida com uma alegria feroz que lhe estoirava a alma. A sua liberdade suprema custou-lhe a felicidade – à qual questionava com grande satisfação e vaidade de que era feita a sua substância misteriosa. Cinzas às cinzas! Decidiu-se afundar em ruínas, aborrecido e fatigado, sem que a loucura do absoluto lhe saciasse a sede do eterno. Alcançará o eterno quando se recordar do passado espesso que o sufocou pela instabilidade asquerosa.
     Sem que se despedisse com saudades de nada nem de ninguém, Emília encontrou-o na luz negra e ardente do quarto em negrume com o odor velho de uma morte há muito anunciada sem que revelada. O tédio infinito do seu egoísmo feito de crueldade consolo-o. Riu-se satisfeito da pequenez dos homens. Mas esse rosto em forma de escárnio, não o viu Emília. O acto consumou-se sem aviso. A morte não se prepara... para os outros. Os que assim escolhem a sua hora fazem-no no ruído abafado do aborrecimento sem fim.
     Nem uma carta tinha Emília para lembrar o seu grande amor. Emília, aquela de aroma quente e sensual que na sua cama de dossel – não a deste quarto de morte – lhe gastava dias de vida numa noite de jacto em descargas nervosas. Isso ela não sabia. Nem tão-pouco sonhava que a sua ilusão de grande amor era um amor há muito vulgar, cuja materialidade se ia esbatendo, qual tarde de Outono que se morre... devagar.
     Oh Emília! Tantas noites choradas em choro inquieto por não decifrares como apaziguar o medo frio e a monotonia congelada  de quem se escrevia, trabalhando o dia todo. Só nesse labor o teu grande falso amor tinha a impressão de que na vida ainda havia alguma coisa que valia a pena fazer.
     Emília, querida Emília... Porque é que os homens não hão-de ser simplesmente homens? Chora. Chora, chora muito para que não rasgues o desconsolo infinito das coisas abandonadas. Esquece-te das misérias e não invernes polarmente. Por uma vez, Não! Essa raiva surda que te engaiolou, qual amante sem desenganos, entrega-te o orgulho desdenhoso. Buscaste tantas vezes naqueles olhos enfermos e agastados o sentido de uma alma sem esperança. Jaz à tua frente sem saudade do futuro onde podia ser realizado o teu sonho nunca concretizado da vaidade de um grande amor.
     E agora Emília? Iludiu-te como os olhos pregados no vácuo. Bem-dita ilusão enquanto crias nela! O nevoeiro caído em lama envolve-te e paralisa-te as asas. As tuas ainda podem voar. Lá, muito longe na escuridade do ocaso, enterra as cinzas daquele que se ardeu. A tua alma perde-se nessa metade que se rebelou. Tens ainda o resto de ti, mesmo que ceifado pelo teu grande amor. Combate o (im)previsível. Na tua cama de dossel há espaço para outros amores, mesmo que não sejam grandes nem falsos.
     Matou-se, Emília! Tens vontade de continuar a chorar. Talvez assim – como os náufragos – também te afogues mais depressa. Mas sabes, Emília? Podes decidir levantar-te e encontrar o remédio para aquelas indiferenças bruscas e exageros afectivos.
     Na enxurrada de lágrimas que a afundam no seu rio, percebe então como aquele que escolheu a não-vida se punha a dormir dolorosamente no seu regaço. A ilusão da imortalidade de um amor que, como todas as farsas, tinha de morrer. E morreu! Não o amor, mas o objecto da ilusão do seu grande amor.
     Destroçada, sai do quarto moribundo restolhando surdamente o seu respirar dorido. A rua. Na rua sob o luar de cinco dias deslocados no tempo. De coração recortado e em tumultuosa rebelião interior sepulta os seus sonhos, como sepultado será aquele que sofreu geladamente nas sílabas do tempo e sempre, sempre num sorriso... amargo.
     Oh Emília, e agora? As estrelas esvoaçam na languidez de quem morre a arfar, desta vez não voluptuosamente, mas na recordação de um cadáver suicida. Pobre alma engaiolada numa capoeira.
     “Então este amor não te dá felicidade?” Escuta-se na voz sumida àquele que o mundo perdeu. Emília, Emília... sua excelência saiba que o homem é um animal triste, muito triste... Não tentes compreender a nostalgia de um mundo sonhado e não realizado. Já não precisas de representar esse papel para que não nasceste. O teu tempo não é este. As horas estão cansadas de ser horas na tua noite desossada.
     A Emília... vagueou toda a noite embalando a própria dor. Na escuridão muda tentava enterrar um futuro adiado. Velha no seu tempo para os que se cruzavam em estupidez insondável – uma solteirona –, flutuava em cada pé nas pedras. Deambulando na noite dolorosa, Emília reagia. Reagia como uma tarde de Setembro... lentamente. Nessa hora inimiga, infinitamente triste, tragicamente triste, divinamente triste... as lágrimas em fio.
     A noite ficou naquele quarto na nudez intensa de uma morte não avisada. No dia que começa a sentir nos ossos gelados, nas mãos geladas, os olhos de Emília, cansados, doridos e muito velhos, estão ávidos de descanso.
     Quando estamos silenciosos é que falamos mais, dizemos mais coisas... No silêncio nocturno quase dia, Emília cala-se. Para quem falar? Aquele que não se preocupou com a dor que causaria partiu desiludido sem saudades. Aquele passado há-de matar quantas esperanças lhe possam germinar. Tudo vão e em vão!
     Por uma vez, Não! Afinal o mal da vida é não saber vivê-la... ou não poder. Mas tu podes! Por uma vez, podes!
     “Posso... cinzas às cinzas!”

A tatuagem



2 de Maio, 2013, quinta-feira
Em visita a uma amiga. Sugeriu um passeio. Perguntei se o gabinete de tatuagens onde fez as suas era perto. Durante a caminhada, passaríamos pelo tatuador*. Aí ficámos a discutir sobre como e onde seria a tatuagem. A tatuagem. Living Life Following my Heart. A marca definitiva. A resposta à questão sobre o custo agradou: “Este é o preço de amigo. Pegar ou largar”. Peguei sem pensar. Seguindo o coração? Foi por acaso que a ocasião surgiu. Com não há coincidências, para quê adiar o que há tanto tempo desejava?
A tatuagem. Uma marca definitiva no corpo. A tatuagem – Living Life Following my Heart. A tatuagem no tornozelo. Uma marca definitiva neste corpo. De quem é este corpo? O my na tatuagem em letra minúscula. A letra minúscula. O corpo deste ser que se quer perder na vida. O ser que quer aceitar a vida, escutando o coração. A tatuagem no tornozelo esquerdo. O coração na tatuagem. Há quanto tempo se desenhava a tatuagem? A natureza definitiva inibia. Em Banguecoque, Trevor – um rapaz canadiano que também leu ‘Crónica de um pássaro de corda’, de Haruqui Murakami: “A tatuagem é definitiva e? Remete-te para uma fase da vida”.
Uma vida em movimento. O verbo em continuidade. Vivendo. Seguindo. A tatuagem. Uma pulseira oferecida no natal com a mensagem no infinitivo. A pulseira que se mantém desde então. A tatuagem no tornozelo deste corpo. A tatuagem. A marca a lembrar. Vive a vida. Segue o coração. Definitivo? Quem sabe até quando seguirei o coração. Hoje foi o coração a comandar. A tatuagem. A marca definitiva. Lembra-te que a vida é viver. Fluir no amor e com amor. Escutando, seguindo o coração. Nada mais que isso. A tatuagem. A lembrança permanente. Vivendo a vida, querendo fluir e seguir o coração.

*o tatuador, o Guilherme, a quem agradeço a tatuagem que adoro e a fotografia linda. Obrigada Guilherme (http://tatuandohistorias.blogspot.pt/)