Fotografia de Álvaro Martino |
Maio é o meu mês preferido. Por esta altura é habitual que a Primavera
se sinta mesmo primaveril. Os dias estão cada vez maiores e a temperatura vai
aumentando, mesmo que a sabedoria popular nos alerte que em Maio,
cerejas ao borralho. E esse fruto, cuja cor rubra me suscita devaneios
quase luxuriosos, é um dos meus favoritos. Por vezes, até evito comer a
primeira cereja. É que atrás de uma, vem outra e mais outra e mais outra, e ainda mais outra. E os
caroços vão-se acumulando, nem sempre ao borralho.
Nos montes e vales, nos parques e jardins, os malmequeres e as
margaridas (as amarelas, as minhas flores predilectas) abrem as suas pétalas,
ao mesmo tempo que o orvalho matinal se dissipa com os raios do Sol cada vez
mais altos. Nos ramos das árvores mais verdes e frondosas, escutam-se trinados
e cantorias flamejantes. O amor está no ar.
No ar, as andorinhas esvoaçam alegres, confirmando uma Primavera
exuberante, que se patenteia nos namorados de fresco. Talvez inflamados pelo
canto harmonioso da natureza, ou, quem sabe, atingidos pela seta do cupido.
Ao fazer as contas, comprovo que os meus pais também terão sido tocados
pelo cupido. A minha data de nascimento assim mo assevera.
Mas a minha predilecção por este mês deriva, igualmente, do facto de ter
sido agraciada pelo nascimento do meu
mano. As nossas zaragatas na infância deixaram marcas indeléveis no corpo,
que hoje são recordadas como fios de união – a admiração é mútua e não é raro
que o digamos: há que o afirmar aberta e explicitamente. E se o leitor ou
leitora me permite, aproveito este espaço que me é concedido (muito obrigada!)
para dar os Parabéns ao Miguel. No dia 23 comemora mais uma Primavera.
Enlevada pelas cores, sons e odores primaveris, dou por mim nas
planícies do Alentejo. De todas as vezes que estive em terras alentejanas, os
dias que passei numa Primavera, em Maio, são os mais vívidos na minha memória.
As planícies e montes tapeados de amarelo, sob um céu azul
resplandecente assomem, sem que tenha necessidade de recorrer às fotografias tiradas em Elvas, Estremoz e lugares afins.
Sem dúvida que Portugal, com as suas estações (ainda) bem demarcadas e
perceptíveis, me oferece uma imensa beleza natural, que me envolve e rodeia,
abraçando-me como quem beija. Basta, para isso, que os olhos se abram, os
ouvidos escutem, o olfacto se desperte e a pele se desnude. Os sabores, esses,
estão em casa.
De todos os restaurantes em que me sentei pelo mundo fora, não há nada,
nem ninguém que iguale a comida da Lola: a minha mãe, pois claro! Quem já teve
os pés debaixo da sua mesa, sabe que não estou a exagerar. De qualquer modo, no
primeiro Domingo de Maio, fazemos sempre questão, eu e o meu mano, de a
convidar para almoçar fora. Afinal, mãe é mãe. E a minha é, sem dúvida, a
melhor do mundo!
*Este texto foi publicado no Jornal o Chapinheiro
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