Fotografia de Carlos Luís Pedrosa |
É intencional,
o título. Mais um ano começa, em vez de mais um ano que termina. Gosto de
recomeços. Gosto de reinícios. Gosto da perspectiva de novas experiências.
Ainda assim, para mim, é muito importante olhar para trás. Um olhar reflexivo.
Sem nostalgia. Sem arrependimentos. Sem pesar. Um olhar em jeito de balanço.
Passar em revista, como se sentada na plateia de uma sala de cinema, cada mês,
cada lugar, cada pessoa, cada experiência, cada livro. Onde estive. Com quem
estive. Como estive. O que experimentei de novo. O que repeti.
Questionar-me
acerca de cada minuto que se incrustou no meu ser. Questões que me auxiliam a
construir aquela que para mim mais importa: o que aprendi? Com a resposta a
esta pergunta, fico mais capaz de compreender se, com efeito, cresci como
pessoa, se já não repito padrões de comportamento inadequados e se me libertei
daquilo que deixou de ser relevante (refiro-me a coisas, a lugares, atitudes e
até a pessoas - mesmo que o último elemento soe inconveniente).
Também olho
para a lista efectuada no início do ano que finda (que tende a ser cada vez
mais curta) e verifico se a cumpri, como a cumpri, que consequências no meu
modo de ser e de estar. O que não foi possível realizar e porquê. Apesar da
lista ser cada vez mais curta a cada ano que passa, não alcancei dois dos
pontos. Ainda não tive oportunidade de voar em queda livre, assim como ainda
não conheci um dos escritores que mais aprecio - estou a ler mais um livro da
sua autoria, mas creio que isso não conta. Tudo o resto concretizou-se. Li
muito, escrevi alguma coisa - bem sei que poderia ter escrito muitíssimo mais
-, conheci pessoas maravilhosas, estive em lugares únicos, trabalhei com e sem
remuneração e em muitos momentos senti-me em paz: fui feliz.
Esta é uma
das aprendizagens do ano: o conceito que detinha de felicidade alterou-se
imensamente. Se até ao ano passado ser feliz era, sobretudo, ser livre e
independente em todas as dimensões da vida, hoje, essa liberdade amplia-se ao
mesmo tempo que se acalma. Ou seja, a liberdade - que para mim significa estar
e ser como considero adequado, aceitando com responsabilidade as consequências
das minhas escolhas - é, sem dúvida alguma, fundamental para me sentir em paz.
Estar em paz
e sentir-me serena ultrapassa, porém, a necessidade de ser livre. Tenho tido o
privilégio de conhecer muitas pessoas fascinantes, de ler livros que me
provocam indagações, de vivenciar montanhas, praias, desertos, e até tubarões
no outro lado do mundo. Sinto-me, sou e estou profundamente grata por tudo o
que me tem sido concedido viver.
Compreendo,
hoje, que a minha felicidade está directamente associada à equanimidade:
aceitar com tranquilidade tudo o que a vida me oferece, sabendo que tudo passa,
tal como na natureza. Desfrutando de tudo o que é bom sem criar apego. Viver os
momentos que me pareçam mais difíceis sem aversão, atentando de forma
consciente às possíveis ilações a retirar para, desse modo, crescer...
aprendendo.
Quando me
observo e olho em redor, percebo o quão agraciada, privilegiada, afortunada
sou. E essa sensação despoleta em mim, a cada momento, uma crescente confiança
na vida. A confiança de que tudo está e estará bem providencia-me cada vez mais
paz, tranquilidade.
Ser e estar
em paz, confiante e segura em relação à abundância da/na vida: sei e sinto que
tudo o que necessito me é concedido no momento e no espaço certos. Para isso,
basta que:
-
me esforce ao máximo em tudo o que faço e sou
-
esteja atenta aos sinais para assim estar
receptiva a todas as formas de abundância
-
seja e esteja consciente - a cada dia esses
instantes vão aumentando
-
confie que sendo e fazendo o melhor que sei e
posso, não há mais nada a fazer
-
seja fluindo e desfrutando cada momento, cada
lugar, cada pessoa
-
aceite o desconforto e os momentos menos bons ou
até mesmo muito difíceis com o discernimento suficiente para me questionar: o
que tenho eu a aprender com esta situação, com esta pessoa?
E assim é!
Neste final
de Dezembro sinto ainda necessidade de agradecer todas as circunstâncias em que
me encontro; sobretudo às pessoas que se deram a mim, que partilharam comigo as
suas horas, os seus dias, as suas coisas. Também sinto uma necessidade
incomensurável de agradecer ao C.L. por entrar na minha vida e de me incluir de
forma tão fácil e amorosa na sua. Hoje, compreendo um pouco melhor o que é o
amor incondicional. E, por isso, estou tão cheia, tão feliz. Por isso, também,
necessito de partilhar o que em mim não cabe. É possível o AMOR. Basta que se
abra o coração e se deseje dar e receber o que de melhor há em cada um nós.
28 de Dezembro, 2015
Carrazeda de Ansiães
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