Foto de Álvaro Martino
Em
Maio, comem-se as cerejas ao borralho. Há dois anos estive em Nogueira do Cravo
no mês
de Maio. Fui passar uns dias com a avó Altina. Diga-se de passagem que não
me recordo de viver de forma tão intensa aquele provérbio.
Estava um frio de rachar! E eu toda artilhada com roupas e casacos de Inverno.
Que frio na rua! Em casa estava-se bem, não ao borralho, mas junto ao forno a
lenha da cozinha da minha querida avó.
Maio
que não
der trovoada, não dá coisa estimada. Não conhecia este provérbio.
Recorro a essa sabedoria popular, pois para mim as trovoadas são
um espectáculo assombroso da natureza, esteja eu segura e abrigada dos
potenciais raios.
Comecei
a apreciar esse crepitar estrondoso das nuvens depois a infância.
Até
então,
como muitas crianças, os trovões e os relâmpagos
apavoravam-me. Corria para debaixo das saias da minha mãe. Com o seu
sentido amoroso de protecção, a minha mãe apaziguava-me. Não
é
isso ser mãe?
A
Mãe
tem no primeiro Domingo de Maio toda a atenção (possível) dos seus filhos. Pelo menos nesse
dia. Contudo, a Mãe não o é apenas nesse dia. A Mãe, desde que intui que está
grávida,
até
ao dia em que desaparece desta existência, é sempre Mãe. Está
sempre em cuidado pelos filhos, está sempre disponível para ajudar os
filhos, está sempre a fazer e a ser o melhor que sabe como mãe.
Não
sou mãe.
O que escrevo decorre do que sinto e depreendo pela minha experiência
enquanto filha, bem como do que vou observando nas mães que conheço.
Como
são
lindas as mulheres que trazem no ventre outra vida. Fico sempre agradavelmente
surpreendida quando alguma mulher que me é próxima está grávida. Os seus olhos mudam; ficam ainda
mais vivos. A sua voz altera-se; tornando-se mais suave. A sua postura transforma-se,
sendo em muitos casos de uma tranquilidade exuberante. O que me faz pensar no
que é
isso que todos nós desejamos: ser feliz.
Ser
mãe,
para as mulheres que conheço – é em relação a essas que me posso reportar –,
é
uma dádiva.
Recentemente, uma grande amiga minha foi mãe pela primeira vez. A Sónia.
A sua filha, a Carlota, mostrou-me uma Sónia diferente. Tranquila. Ainda mais
afectuosa e com um sorriso constante, como quem diz: sou a pessoa mais feliz do
mundo.
Ser
mãe
é,
todavia, um dos papéis mais importantes e provavelmente o mais difícil
que uma mulher pode desempenhar. Pelo simples facto que não
se desempenha. É-se mãe. Sempre. Quando o bebé nasce, a mulher passa a ser Mãe
e a ter o coração sempre atento, sempre alerta. SEMPRE. Por isso tão
difícil.
E no entanto, não se sente como difícil. Pelo contrário. Tal como a
maternidade é recebida como uma dádiva, ser mãe é
ser A Dádiva
constante. Sem que o sinta como mãe, como filha arrisco a dizer que o
amor de mãe é possivelmente o único incondicional.
Da
minha parte (juntamente com o meu pai), foi da minha mãe que sempre recebi
amor incondicional. O sentimento que me transmite a sensação
de protecção incondicional. Sinto que o que quer que eu faça,
quem quer que eu seja - mesmo que não me compreenda; sei do que falo -, a
minha mãe
estará
sempre para me ajudar. A minha mãe é e será sempre a minha Mãe.
Por isso, se o leitor ou a leitora, me permite, eu aproveito este momento para
reiterar a minha profunda gratidão à minha mãe. Muito obrigada, querida Mãe,
por me ajudares a ser quem sou. Muito obrigada por me fazeres sentir
incondicionalmente protegida e amada!
O
dia 15 de Maio concede-nos outra oportunidade para demonstrar o afecto pela mãe.
É
o dia internacional da família, e/ou das famílias.
O plural não é um acaso. Faz toda a diferença. Realça o facto de o conceito de família
ser muito diverso. Ser plural!
De
entre os múltiplos significados da palavra família, agrada-me
sobremaneira a ideia de família que abarca o conjunto de pessoas
que se liga por laços de afecto e que se une para compartilhar momentos mais ou
menos importantes. Que se junta e se acompanha nas horas mais quotidianas e em
momentos tão simples como ajudar a fazer os trabalhos de casa, a pôr
a mesa (mais ou menos farta) para o almoço ou jantar, ou para sentar no sofá
apenas e tanto para conversar.
As
pessoas a quem se pode recorrer num momento de maior aflição,
ou a quem nem é preciso recorrer,
pois basta um sinal e ali estão, nem que seja apenas para nos
segurar e dar a mão.
Aquele
conjunto de pessoas que se une para compartilhar nos dias festivos, qualquer
que seja a natureza da comemoração. Não posso deixar de lamentar que alguém
tenha suprimido uma série de feriados; são esses dias de folga no emprego que,
por serem comuns à maioria das pessoas, permitem que elas tenham a mesma
disponibilidade e assim estar juntas para confraternizar, partilhar, rir, abraçar,
dançar
e tudo aquilo que nos torna mais humanos, mais felizes.
Lamentos
à
parte, parece-me importante destacar que as famílias são muito mais que as famílias
‘tradicionais’
constituídas
pela tríade
de pai, mãe e filhos. São os afectos, os sentimentos amorosos
que nos fazem sentir amados e integrados numa família, seja ela monoparental, seja ela
com dois pais, duas mães, pais e mães adoptivos, família
substituta, comunitária ou arco-íris. O que importa, pelo menos para
mim, é
o sentimento de pertença, compartilha, de abrigo e protecção que cada família
transmite aos seus membros. No limite, poderíamos ser todos uma família.
Bastaria que nos olhássemos entre todos da mesma forma com que nos olhamos a nós
próprios.
Com o coração! (já agora, o dia mundial do coração
é
a cinco deste mês)
*Este texto foi
publicado no jornal O Chapinheiro
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