Em Outubro, dias que fazem pensar...*



Outubro começa com um dia mundialmente assinalado para reflectir sobre os idosos, sobre aqueles que passaram por várias idades e estão no que hoje se designa de terceira idade. Uma etapa da vida repleta de sabedoria e muita experiência acumuladas nas duas idades anteriores.
Em Nogueira há muitas pessoas com muitas idades. Talvez mais que a terceira ou uma quarta. Independentemente de quantas idades por que terão passado e vivido, o relevante será escutar essas pessoas. Têm tanto para contar, têm tanto para ensinar, têm tanto para partilhar... Porém, não é raro que os mais velhos sejam tratados como trapos, quando, na verdade, as suas peles cheias de rugas representam tão-somente uma longevidade que quase todos gostaríamos de alcançar.
Se esse é o caso, o de se querer chegar a velho, muito velho, valerá a pena reflectir como se quer ser tratado(a). O meu desafio é este: que cada um de nós responda à seguinte questão: “quando eu tiver setenta ou mais anos como quero ser tratado(a) e como quero cuidar de mim próprio(a)?”
Pois bem, já respondeu? E então? É dessa forma que está a tratar as pessoas que em Nogueira têm essa idade ou mais?
O que é preciso mudar, então? Talvez que valha igualmente a pena atender a outras idades. É que no dia 3, também nos é oferecida a ocasião para reflectir sobre a infância. É nesta fase da vida que tudo começa. É na infância que aprendemos os primeiros passos em como respeitar todos os seres que nos rodeiam – entre os quais os animais (com o dia 4 mundialmente dedicado). Assim sendo, será logo na infância que devemos criar condições para que se aprenda a tratar os outros como se gostaria de ser tratado: com respeito, tolerância, honradez.
Honradez, porque não? Qualquer pessoa pode ser honrada por todos os seus gestos, mesmo os pequenos gestos, mesmo as pessoas pequenas, que ainda na infância. De facto, se logo em criança eu perceber que todos os seres são dignos de respeito, independentemente da sua idade e origem, desde cedo eu agirei em conformidade: com respeito, honradez... É também isso que está em causa quando ainda na infância se vai para a escola – é lá que está o professor: aquele que também tem direito a um dia mundial (dia 5).
Nos tempos que correm, este dia ganha ainda mais importância. Disso não há dúvida. Mesmo que para muitos o objectivo seja o de colocar os professores num nível de sub-humanidade, desrespeitando-os quase todos os dias, a verdade é que os professores são pessoas com um papel primordial na vida de todos nós. E é tão fácil encontrar razões para os honrar e respeitar. Basta lembrar que se podemos ler esta crónica é porque alguém nos ensinou a ler. E se eu a estou a escrever é porque muitos professores deixaram marcas indeléveis no meu ser. Sem os professores da minha vida eu jamais seria quem sou.
No entanto, não posso deixar de lamentar que aqueles que hoje estão no poder se tenham esquecido tão facilmente dos seus professores e se tenham esquecido de algo tão básico e tão simples como isto: os professores também são PESSOAS!


*Texto publicado no Jornal o Chapinheiro

Maresia*

Quando tudo parece calmo, não está!
Debaixo de cada onda dançam a Bela e o Monstro.
No horizonte, o azul desfaz-se em negro quando a tempestade se aproxima nas vagas da nova maré.
Quando tudo parecia calmo, o negro aproximava-se e apagava o azul no horizonte. A luz enegreceu, transformando brutalmente o cenário que antes parecia de tranquilidade azul. A Bela escondeu-se nas ondas.
Debaixo das ondas, dançam a Bela e o Monstro, mas, deste lado, a lente não alcança os sonhos dos revoltados.
Os sonhos querem dar-se à costa na espuma fremente que as ondas oceânicas lançam. Mas os olhos que as agarram têm medo.
Medo de quê? Se até um pássaro é capaz de sobrevoar o mar, ainda que as suas asas vacilem e lutem no horizonte com o vento contrário.
Debaixo das ondas, desceu a noite de Inverno.
Não é o Inverno, é a sombra desse mar negro que se arranca no horizonte.
Debaixo das ondas, o Monstro guarda os sonhos dos revoltados como um tesouro que só a espuma das ondas atlânticas conseguem selar.
O Monstro é o medo da realidade que os olhos perdem em cada flash, que os olhos querem agarrar no voo desse pássaro ao vento.
Debaixo de cada onda vem a noite, vem a sombra do mar que os sonhos dos revoltados preferem cantar.
O medo não lhes assiste. O medo não lhes existe.
Só os revoltados sabem que o Monstro da realidade, o mar revolto na negrura da tempestade também é a Bela que transforma o caos noutra possibilidade.
Debaixo de cada onda, dançam a Bela e o Monstro... quando tudo parece calmo.





Para as fotos de Álvaro Martino
https://www.behance.net/gallery/14434087/Maresia


Em Setembro, os tralhões que se cuidem*




O dia mundial da alfabetização comemora-se este mês. Dia 8. Mais uma data para lembrar que ainda há muito a fazer para que o mundo seja pelo menos um pouco mais justo. E sim, é mesmo verdade: em Portugal ainda existe gente que não sabe ler. Gente que não sabe ler no sentido literal da palavra. Em pleno século XXI, em Portugal (!) há gente que não sabe ler! É possível! Não é uma pergunta retórica. É uma afirmação que, de tão inacreditável, é chocante (pelo menos para mim).
Naturalmente que a alfabetização ultrapassa o saber ler, escrever, contar, etc. Desde logo, porque saber ler não significa que se compreenda a informação disponibilizada. Tantos exemplos que conhecemos de pessoas que foram enganadas, por não fazerem ideia do que se lhes estava a ser vendido – leia-se, impingido. Ora, isso é tão frequente que nem se dá conta. Só quando acontece na porta ao lado, como em Nogueira. Quantas pessoas terão assinado contratos para serviços que não só desconhecem, como não têm como usufruir. E essas pessoas que ‘compraram’ os serviços não são iletradas nem tão-pouco ignorantes. Só não estão alfabetizadas em relação às novas tecnologias. É pena que quem faz esse tipo de venda careça da alfabetização mais importante, a dos valores, como o respeito pelo outro.
Coincidência, ou nem por isso, Setembro é o mês do regresso às aulas. Em Nogueira, a escola está linda. A renovação/reconstrução da escola deu lugar ao Centro Educativo de Nogueira do Cravo. São cerca de 150 miúdos da freguesia e arredores que aí dão os primeiros passos na leitura.
Quem sabe este espaço renovado incentive a quem de direito a desenvolver iniciativas para toda a comunidade de Nogueira. Actividades que contribuam para outras alfabetizações. Como a do coração – o dia 29 deste mês é-lhe dedicado mundialmente. Tomemos então conta do coração. Não apenas com acções que estimulem os bons hábitos e estilos de vida saudáveis, mas também com actividades que contribuam para o desenvolvimento dos afectos. Até porque a escola é o local por excelência para aprender. E na escola de Nogueira sempre se aprendeu muito, e muito para lá do saber ler e escrever e contar.
Que o digam aqueles que aprenderam com o Professor Albano. Um Mestre, diz Amadeu, diz Francisco António, diz Zé Alberto, dizem todos os que andaram na escola entre as décadas de 1940 e 1980. Durante mais de trinta anos, o Professor Albano ensinou a ler, a escrever, a contar.  Sobretudo educou no respeito, na verdade e em outros valores que também hoje se querem renovados.
Eram tempos diferentes. Setembro significava também aventura para os rapazes de Nogueira. Às cinco da manhã, era vê-los a saírem armadilhados de costilos para irem aos tralhões. O caçador-mor era outro grande professor, o Francisco António. Acompanhado dos primos Amadeu e Zé Alberto – e com o António Mendes quando estava na terra –, ficavam no olival à espera que os tralhões caíssem nas armadilhas – os costilos previamente preparados com todo o cuidado... e artimanha! A tia Rosa levava o café. Se não houvesse café havia muita uva para comer – sim, porque as vindimas só depois.
Os tralhões eram um regalo para todos. O gozo ultrapassava a caça dos pássaros também conhecidos por papa-formigas. A véspera era na brincadeira a juntar umas quantas formigas para os ludibriar. De troféu aos ombros, cantavam os galos para ir depenar as aves. Um pitéu: os tralhões grelhados com umas quantas pedras de sal. Relembram os protagonistas. Esses senhores de Nogueira, homens que respeitam as suas origens e que fazem questão de partilhar as suas raízes com as gerações mais novas. Obrigada pai Amadeu e padrinho Francisco António.




*Texto publicado no Jornal: O Chapinheiro


Juventude: uma palavra, uma categorial social?*



O dia 12 de Agosto é o dia internacional da Juventude. Um dia para estimular os jovens a mudar. Ou, como grande parte dos dias instituídos, neste caso pela ONU em 1999, um dia para dar visibilidade aos problemas que os jovens enfrentam, em tempos difíceis. Ainda assim, os jovens são considerados, pelas gerações mais velhas, aqueles que têm a energia e o vigor para lutar por um Mundo melhor e para transformarem as circunstâncias em que se encontram.
Sociologicamente falando, a juventude é um processo de transição. Pode ser considerado um conjunto de pessoas aparentemente semelhante, se compararmos com outras gerações – daí que se fale numa consciência geracional. Ou pode ser considerado um conjunto de pessoas aparentemente distinto, se entendermos este conjunto com atributos sociais que diferenciam os jovens uns dos outros, em função dos seus interesses, das suas origens e das suas perspectivas e aspirações – daí que se ouçam expressões como culturas juvenis, novas tribos urbanas ou outras designações, que não passam disso mesmo: classificações.
Uma coisa parece certa para os que se encontram noutras fases da vida: os jovens são aqueles que, para terem acesso à vida adulta, devem ingressar na vida activa. Isto é, iniciarem a sua ocupação profissional e, assim, adquirirem autonomia social. Por outras palavras e sociologicamente continuando, alcançarem a sua emancipação económica e habitacional, constituírem o seu próprio agregado familiar e viverem na plenitude os seus direitos e deveres cívicos.
Porém, a entrada no mercado de trabalho é cada vez mais tardia (por inúmeras razões), bem como a aquisição de uma profissão estável e duradoura – se é que hoje se pode utilizar esta expressão. Por conseguinte, assistimos a um prolongamento da condição social ‘Juventude’.
Ora, esse prolongamento poderia ser positivo, como uma ‘pescadinha de rabo na boca’. Quanto mais tarde o jovem tiver o seu emprego e consequentemente, autonomia social, mais tempo tem para ser jovem e, consequentemente, para continuar a lutar por um Mundo melhor. Mas não é isso que ouvimos das gerações mais velhas. Pelo contrário, quantos jovens escutam: ‘vai mas é trabalhar, vadio!’; ‘tens de ser responsável’. E ser responsável é ter capacidade económica para ter casa própria e família e etc. Mas, mais uma vez a ‘pescadinha de rabo na boca’: quantos jovens passam para a fase adulta quando ainda são considerados jovens? (sob o ponto de vista da idade – até aos 29 anos, por exemplo)
Ora, os jovens não consideram positiva a dificuldade em encontrar emprego, nem tão-pouco ver protelada a sua autonomia e independência. E, talvez por isso, nunca como hoje (nem mesmo na década de 1960), tantos jovens se vejam obrigados a saírem de Portugal, para assim alcançarem autonomia e se transformarem em adultos. Se, para muitos, sair de Portugal é interessante; para muitos outros, tal é sobretudo uma inevitabilidade indesejada.
Talvez faça mesmo sentido um dia para lembrar aos mais velhos que também lhes cabe criar condições para que os mais novos possam ser autónomos. Por exemplo, mas só um exemplo: aqueles que estão no poder e podem alterar as políticas. E se eles deixassem de pensar apenas nos seus interesses (e dos seus amigos mais poderosos) e fossem um pouco jovens. Ou seja, se aqueles que estão no poder (e que como tal podem efectivamente mudar o Mundo) pensassem e agissem de outro modo e, assim, lutassem por um Mundo melhor...
Até porque os problemas que os jovens enfrentam, nomeadamente as dificuldades de acesso ao emprego/trabalho, à habitação própria e a pobreza não são problemas exclusivos dos jovens. Se existe uma consciência geracional e se existe uma consciência política, então que sejam consciências atentas e activas e solidárias, que ajudem a criar as condições sociais necessárias para que os jovens se lhes juntem e se transformem então – em adultos responsáveis.
Não obstante...
Se ser jovem é ser irreverente e querer fazer algo fora do estabelecido e/ou conhecido
Se ser jovem é ser rebelde e querer rebelar-se face ao que desagrada e face às injustiças
Se ser jovem é ser aventureiro e querer descobrir novos lugares e pessoas
Se ser jovem é ser sonhador e querer tornar o Mundo pelo menos um pouco melhor
Se ser jovem é ser confiante e querer ultrapassar todos os obstáculos por algo em que se acredita
Se ser jovem é acreditar no amor incondicional e querer viver esse amor
Se ser jovem é mais do que uma categoria social
Se ser jovem é mais do que uma fase de vida
Se ser jovem é realmente mais, muito mais do que uma palavra
Então eu quero ser eternamente jovem!

*Texto publicado no Jornal: O Chapinheiro

para o dia dos avós...




Avós...*
Avó. Avô. Dia 26 de Julho. Dia dos avós, dia das avós. E dos netos? Será necessário um dia dos netos? Pouco provável. Se existe um dia do avô ou da avó, significará que os netos têm de ser lembrados. Não há dia do neto ou da neta (pelo menos que eu saiba), tão-somente por ser caso raro que algum avô ou avó se esqueça dos seus segundos filhos. Como também não há dia do filho ou da filha, mas do pai e da mãe. Novamente para lembrar os filhos dos seus pais.
Avó. Avô. Dia 26 de Julho. Dia dos avós, dia das avós. Não sou mãe, e muito menos avó. Sou filha, sou neta. Mas há uma coisa que sei sentindo, sei vivendo, sei estando: os avós têm tanto para dar e às vezes não têm quem receba a imensa sabedoria, o imenso carinho, o imenso que são...
Onde estão os netos? Onde estamos nós? Sempre a correr de um lado para o outro. Sem tempo para estar e ser com os mais velhos que não são trapos. São pessoas com muitos anos de vida. Por isso com muitas experiências. Por isso com muita sabedoria. Por isso cheias... a transbordar. Só há uma coisa que interessa aos avós: DAR!
Quando se dá o caso dos filhos terem já os seus filhos, ficam com a possibilidade extraordinária de dar continuidade ao ciclo da vida. Têm, pois, capacidade de oferecer aos seus pais o estatuto de avós. Mas isso não chega! Qual é o avô ou a avó que fica apenas satisfeito por ter mais um neto?
O avô e a avó ficam felizes quando podem ser avós – estando com os netos. Sobretudo, dando-se aos netos. É por essa razão, talvez, que às vezes parece que o que têm para dar é demais. Demais no sentido em que mimam os netos. Ora! Mas para que servem os avós? Para mimar, pois claro. Não apenas, mas sobretudo. E porque não, papás? Afinal de contas também é preciso. Mimar no sentido em que os avós educam sem ralhar, educam sem castigar, educam dando e dando tanto! Tanto que até parece demais. Mas não é demais, papás. E os vossos filhos não ficam meninos mimados só porque são netos, sendo netos com os avós. Porque aos netos também não basta o estatuto de neto ou neta. É preciso, é fundamental, é imperioso ser neto ou neta, estando com os avós.
“Os avós estragam os netos de mimos”. Não estragam nada! Isso é um mito. As crianças são muito mais inteligentes do que o que eventualmente parecem. Muito simples: as crianças são os seres mais resilientes. As crianças são as pessoas com maior capacidade de adaptação às circunstâncias da vida. Desde muito cedo aprendem todas as regras sociais, normas, valores que lhes são transmitidos. Significa isso que, quanto mais vivências as crianças experimentarem, maior será a sua capacidade de adaptação. Assim sendo, há uma coisa que todos os filhos dos papás, todos os netos dos avós sabem: há regras a respeitar como filho e regras a respeitar como neto. Assim como há regras que se podem desrespeitar com os papás e regras que se podem desrespeitar com os avós.
“Ah, mas os meus filhos devem ir cedo para a creche ou para o infantário para socializarem e terem muitos estímulos e para aprenderem muitas coisas”: basicamente para estarem fechados numa sala desde a mais tenra idade, quando podiam, por exemplo, brincar com outros meninos na rua dos avós, aprender com as histórias dos avós, enfim... serem crianças com os avós que têm tanto para dar, mas muitas vezes não sabem quando...
Não há dúvida que as crianças aprendem muitas coisas, muitos jogos, muitas regras nas escolinhas, infantários e afins. Mas aprenderão a ser melhores pessoas? Aprenderão a sentir os afectos que importam? A minha questão vem no seguimento das estatísticas sobre o que as pessoas, de uma forma geral, consideram mais importante nas suas vidas. No topo está normalmente a saúde, seguida da família. Bem, bem... a família? De certeza? Mas então para quê trabalhar tanto para ganhar tanto dinheiro para comprar tantas coisas... que nem se tem tempo para desfrutar, porque a seguir é preciso comprar mais coisas e como tal é preciso mais dinheiro e como tal é preciso trabalhar mais e como tal há menos tempo para aquilo que afinal consideram mais importante: a família! Mas como a saúde também se vai delapidando com tanto trabalho, o que resta?
Desta família fazem parte os avós. Desta família fazem parte os netos. Desta família fazem parte os filhos, os pais... 

* Texto publicado no Jornal Chapinheiro

Ai que saudades das marchas...*





O mês de Junho convoca, desde logo, as festas populares. Santo António, São João, São Pedro... as festas que instantaneamente surgem no imaginário. Das primeiras, poucas memórias se guardam em mim. São João, dá cá um balão para eu brincar. Os balões enchem os céus nocturnos de luz trepidante. Os martelos e o alho porro enchem as ruas da invicta. Não há quem escape ao cheiro agreste na ponta do nariz e muito menos sem levar com umas quantas marretadas. Tudo em festa com o pretexto dos santos. É disso mesmo que se trata, de santos padroeiros em festa. São Pedro é relevante para mim, sobretudo pela data – era o dia de aniversário da minha querida tia Lurdes.
Das noites de Santo António, apesar de ter vivido em Lisboa até aos doze anos, não tenho lembranças. Essa ausência em mim não me impede de resgatar as memórias alheias. Decidi, por isso, pedir ajuda. Afinal de contas, no largo de Santo António – em Nogueira – é costume festejar-se pela noite dentro.
Ao solicitar auxílio, confirmei o que suspeitava: as marchas não têm marchado nos últimos anos (se esta informação estiver incorrecta, por favor seja benevolente para comigo: a verdade é que tentei obter mais dados). Antes das marchas começarem a desfilar pelas ruas, porém, é fundamental evocar o que alguém lembrou: faziam-se fogueiras com rosmaninho.
O gira-discos do Piroteu era a banda sonora para as noites, nas quais os mais ariscos e afoitos saltavam as fogueiras sem descanso... quer dizer: de vez quando eram obrigados a descansar. As labaredas alcançavam os calções ou as saias de quem não parava e desafiava a física. De resto, como é sabido, esse é o tipo de incidente que não passa disso mesmo: um incidente que era tão-só mais um motivo para a risota despegada, que entretanto mantinha a alegria de quem se reunia para dançar e saltar.
            Quanto às marchas, dos testemunhos recolhidos, o sentimento que prevalece é o da saudade. Queremos as marchas de volta – o que depreendi de quem saudosamente atendeu ao meu repto: “ah... que saudades...”; “isso é que eram festas”; “temos de repetir”; etc... Outras expressões semelhantes a corroborar o mais relevante: as marchas de Santo António eram um momento muito alto na vida de Nogueira do Cravo. Não apenas a noite de 12 para 13 de Junho. Os preparativos para a festa, nas tardes e noites anteriores, eram em franco convívio, alegria e partilha. Preparativos que implicavam naturalmente a confecção dos trajes coloridos, o ensaio das coreografias e toda a decoração necessária para alegrar o largo e tudo ao seu redor. É natural, portanto, que quem tenha participado nas marchas sinta essa nostalgia expressa pela Sónia: “Naquele largo éramos todos uma família... que saudades...”
Convém ainda referir que as marchas de Nogueira não eram umas marchas quaisquer. Não só eram vividamente desfrutadas, cantadas, dançadas por quem participava ou assistia, como almejaram vários prémios. Em 2007, por exemplo, um honroso terceiro lugar em Oliveira do Hospital.  
As fotografias são muito coloridas e cheias de sorrisos cantados, sendo certo que os foguetes terão marcado os momentos mais fortes das noites repletas de versos cantados sobre namorados e namoradas. Já se sabe que o senhor santo António é um dos santos mais casamenteiros. Quem sabe se as marchas voltarem a dar vida ao largo de Santo António haja quem mais case, ou pelo menos quem mais se junte para conviver na aldeia do nosso coração.
Foi de coração aberto que me sopraram alguns versos de marchas de outros anos. São versos da D. Altina, que por acaso é a minha querida avó. Quem sabe seja um estímulo para arrepiar caminho. Afinal, ainda faltam algumas manhãs, tardes e noites até ao 12 de Junho.
Santo António é povo
A Bica é uma cidade,
Pelourinho barco d’ouro,
Onde embarca a mocidade.

Adeus ao largo das Almas
Caminho que vais para a fonte.
Por causa das raparigas,
Muito sapato se rompe.

Minha terra é Nogueira,
Não nego a freguesia
Onde eu fui baptizado
Naquela sagrada pia. 

 * Texto publicado no Jornal Chapinheiro

Miriam, a feiticeira eternamente jovem




O poder de Miriam: prever o futuro. Nasceu numa noite de Lua cheia. Noite de eclipse lunar horizontal. Nessa noite, não se sabe de que ano, a Lua e o Sol eram simultaneamente visíveis e a sua cor alaranjada refracta-se ainda nos cabelos vivamente ruivos de Miriam. Nas noites em que a Lua está totalmente ausente, a escuridão inibe qualquer um de se aproximar do castelo no topo do monte onde Miriam vive, aipotU, cujo nome é igualmente o da aldeia onde os habitantes vivem tranquilos: como não? O futuro é algo que não os ocupa por muito tempo.
De resto, quem quer saber como será o seu futuro mais ou menos próximo; quem quer preparar-se para um acontecimento mais ou menos importante; quem pretende precaver-se em relação a visitas mais ou menos agradáveis, mais ou menos indesejáveis; quem suspira de amores mais ou menos correspondidos; ou ainda quem necessita adivinhar se será ou não atacado por inimigos mais ou menos perigosos recorre a Miriam – a feiticeira até hoje incompreensível na sua perene juventude.
Miriam: um enigma para o comum dos mortais – não só não é comum, sendo igualmente pouco provável que seja mortal. De geração em geração vão-se contando histórias fantásticas, efabulando-se eternas teorias sobre a maga. Ninguém sabe ao certo quantas gerações terá atravessado. Os seus longos e encaracolados cabelos mantêm um brilho incandescente, e os seus olhos ora verdes, ora azuis, mas sem dúvida luzentes, deslumbram qualquer que ouse saber como agir num tempo para lá do agora.
É possível, especula-se, que nem a própria maga tenha noção do tempo da sua já muito longa vida terrena. Essa especulação deve-se à percepção de que nem sempre (ou quase nunca) Miriam se recorda da razão por que regressam as pessoas para agradecer, nem tão-pouco dos rostos repetidos. Assim, se pressagia sem qualquer margem de erro, quando aqueles que voltam com oferendas como forma de agradecimento, nunca sabem como agir. Miriam, a jovem maga, nunca se recorda dos visitantes. A sua memória esvai-se em cada adivinhação. Isso não lhe retira o poder, nem tão-pouco a confiança insofismável que lhe é atribuída.
Apesar da fé que lhe é depositada e até mesmo segurança que auxilia a manter na aldeia aipotU e em redor, as pessoas ficam sempre levemente deslumbradas, levemente assombradas com a pele lisa e sardenta de Miriam. A sua juventude não é compreensível, resultando frequentemente na apreensão expectável de quem não acede a uma explicação racional de tão longa existência. Quem já se aventurou a olhá-la de frente assevera que não terá mais de vinte anos. Não obstante, ao contrário de todos os que a visitam, a idade é provavelmente multiplicável por cem ou duzentos ou mesmo trezentos anos. No castelo onde vive, a decoração é ancestral e impossível de datar.
A curiosidade sobre os anos, décadas ou mesmo séculos da sua existência nunca terá, então, sido satisfeita. Além disso, as suas mãos são de uma pele tão perfeita e imaculada que se tornam mais um elemento inexplicável, aumentando o mistério que a rodeia. O seu corpo alto e magro concede-lhe uma autoridade que somente uma feiticeira consagrada detém. Como é possível, questiona-se. Ninguém conseguiu ainda descortinar como se conserva jovem, sábia e afinal um oráculo vivo – assim a designam os habitantes de aipotU.
O segredo está na Lua nova. Esse detalhe, porém, é esquivo às populações circundantes ao castelo. Tão-somente receiam as noites mais escuras. No fundo, como se pressentissem o evidente. A Lua nova é o instante em que Miriam se coloca em posição receptiva: as suas mãos abrem-se como barbatanas e um formigueiro inicia-se desde a ponta dos dedos até aos ombros, espalhando-se por todo o corpo. A sua graça é lunar. Aliás, sem que isso seja do conhecimento de qualquer habitante em torno do castelo, e provavelmente de todo o continente – a Lua perde o seu conteúdo para o enviar em formigal para Miriam.
E Miriam. Miriam tem nas sardas do rosto de feições perfeitas a lembrança constante da desmemória contínua. Isso é sabido; Miriam raramente se recorda de quem a visita duas vezes. Não é apenas essa lacuna no passado da maga. Na verdade, essa ausência justifica as outras ausências: a de vestígios de envelhecimento. Se não tem memória, como pode então o corpo envelhecer?
As sardas, retomando, são muito mais que sardas. São afinal a presença constante da Lua. O formigueiro que a percorre nas noites novas, mantém-se nessas pintas. Miriam sente o rosto em constante frémito. É um formigal lunar em si. É muito ténue. O movimento constante das suas sardas é tão discreto que nunca ninguém suspeitou. Miriam, todavia, não se esquece jamais dessa constante turbulência na sua face sempre jovem.
A sua capacidade inesgotável não é, porém, apreciada por todos e muito menos pelos habitantes da povoação vizinha. Na verdade, há muito que se espera um ofensiva de ipotsiD – a cidade que sempre teve como objectivo dominar toda a região aipoT. O único lugar que não está subjugado ao seu domínio é aipotU, talvez pela constante prevenção. Isso, no entanto, não abala a tranquilidade de aipotU. Os seus modos de vida concedem-lhe a autonomia necessária para viverem de forma confortável e simples. O rio que nasce no monte aipotU é uma fonte de vida, gerando riqueza suficiente aos habitantes.
Ora, a paz que se vive em aipotU é alvo de inveja por parte da população de aipotsiD, em particular pelo seu governante: Rimami – um homem despótico, cujo prazer se restringe em dominar todo o território de aipoT. Ao ponto de ter enviado várias vezes um espião a aipotU, a fim de obter informações que o auxiliem a finalmente investir com êxito sobre a aldeia. O espião pouco lhe valeu; a informação obtida é do conhecimento geral: a feiticeira Miriam.
Por conseguinte, Rimami mandou outro informante percorrer toda a região. O objectivo era averiguar se existiria alguém que pudesse anular a capacidade de prevenção de Miriam e assim assaltar o castelo sem que esta pudesse alguma vez prever. Os seus intentos foram finalmente alcançados e o tirânico Rimami reuniu-se com o bruxo Mairim. Traçaram de imediato um plano: preparar uma cilada à jovem feiticeira que a obrigue a sair do seu castelo. Rimami confia que o seu poder se circunscreva às muralhas que a envolvem e, consequentemente, a protegem.
O bruxo Mairim engendrou o plano malévolo: provocar um incêndio nas imediações do castelo. Claro que isso poderia ser previsto pela própria Miriam, no entanto, o desafio é o estímulo que incendeia a maldade do bruxo e este tem já uma ideia fulminante. O seu poder permite-lhe atear uma fogueira poderosa sem que tenha de se deslocar à aldeia e, portanto, sem ser visto ou previsto o seu procedimento malvado.
A bruxaria de Mairim está precisamente em conseguir transformar o seu corvo – o animal que o auxilia nas suas artimanhas malignas – num fósforo aceso, no momento em que alcance a janela da torre onde Miriam se recolhe. O intuito é então queimar até às cinzas a feiticeira. Quando Rimami escutou o bruxo, os seus olhos fundos e demoníacos brilharam com tal intensidade, que o seu rosto rugoso se transmudou num esgar que jamais se poderia comparar a um sorriso, tal a malignidade entrevista.
A noite prevista para o assalto era de Lua nova. Aquela em que Miriam descansa e restabelece os seus poderes adivinhatórios. As condições óptimas, por conseguinte, para os planos malvados: assim eles se fiaram. No entanto, quando o corvo saiu em vôo alucinado até à aldeia da paz, as nuvens tornaram-se inesperadamente cinzentas. Sem que ninguém contasse, o céu ficou carregado de uma camada espessa de água repentina e inexplicavelmente acumulada nas nuvens. A torrente de água rapidamente se tornou numa tempestade incomensurável, abortando todos os planos anteriormente preparados pelos velhos perversos.
Os muros densos de água alagaram todas as povoações da região. O palácio do tirano Rimami em aipotsiD ficou, inclusivamente submerso, e o governante apenas se salvou por um triz. O bruxo, esse, desistiu de tentar novamente. Confessou mais tarde ao seu mandante que, com efeito, nada mais podia fazer: era quase certo que houvesse algo mais para além da própria maga e, como tal, não tinha como aceder ao pedido.
Na aldeia de Miriam ninguém suspeitou do sucedido. O único vestígio do pretenso ataque foi uma chuva de vários dias, que até foi muito bem-vinda, dado o calor que se fazia sentia há já algumas semanas. A protecção que se fazia sentir não foi como tal posta em causa... até um dia.
Passados alguns meses, chegou ao castelo onde Miriam vivia, há tempo indeterminado, um forasteiro. Não seria caso estranho, se não suscitasse tanta ou mais curiosidade que a própria feiticeira. Curiosidade é, naturalmente, um termo redutor para se aplicar à personagem que lentamente percorreu as calçadas da aldeia onde o castelo morava. Em cada passo em frente, a leveza que conduzia o homem de capote negro tinha um efeito sonoro: as portas das casas iam-se encerrando. A altivez do corpo, que parecia deslizar sem tocar no chão, assustava tudo e todos. Adivinhava-se o seu destino, que só por entre as portadas semi-cerradas se confirmou pelos olhares escondidos e receosos dos aldeões.
Jonas (não o bruxo Mairim) alcançou as muralhas e entrou na torre de menagem. O que aconteceu depois ficou desconhecido aos habitantes, que de resto não calculam que meses antes se engendrara um assalto à sua pacatez. Só as pedras das paredes interiores podem informar do sucedido. Jonas tinha uma missão. Acabar com a eternidade de Miriam. Sem que o soubesse racionalmente, a feiticeira adivinhava que mais tarde ou mais cedo seria visitada por um certo mágico a mando de Rimami.
Era Jonas quem chegava. A Lua era nessa noite completa. Estava, pois, em aberto qual o desfecho que também as estrelas aguardavam expectantes. Na fase da Lua nova anterior, Miriam procedera como usual – era ritual que lhe estava gravado na pele e cuja memória não era de todo necessária. Agora que a Lua chegava ao seu pleno, Jonas ali estava para suspender uma vida com multi-vidas, tantas vidas que era impossível vislumbrar.
No olhar negro como o capote desse homem ainda mais alto que Miriam, a feiticeira antecipou o que há muito esperava: o seu fim. Era quase com satisfação que recebia aquele não tão estrangeiro na sua torre.
-       O que queres?
-       Sabes ao que venho?
-       Tu dir-me-ás.
-       Tu já sabes.
Palavras apenas imaginadas pelas paredes maciças. A mensagem era telepática e Jonas não precisou de mover os lábios grossos – tal qual as suas mãos debaixo das compridas mangas. Aproximou-se de Miriam. O que pareciam ser mãos rudes, eram afinal extremidades poderosas. Miriam recebeu-as no seu rosto. O toque foi enfim suave e provocou-lhe um choque equiparado ao que nos dias de hoje se designa de eléctrico. O contacto electrocutou as formigas – as sardas de Miriam apagaram-se num ápice.
No instante seguinte, Miriam jazia na sua cama. Os olhos fecharam-se. No instante seguinte àquele instante, Jonas juntava-se-lhe no leito. Guardava com carinho uma das mãos da ainda jovem. O sono da feiticeira prolongou-se pelas sete noites de Lua cheia.
No quarto minguante, Miriam despertou. Ao seu lado, Jonas. Descurando a presença masculina, a maga deu um pulo e abeirou-se do espelho. Quando viu o seu reflexo, Miriam lembrou-se de repente dos seus pais. Há quanto fora? Ah, sim... os olhos azuis, e verdes em simultâneo, continuavam brilhantes, mas...
Durante essas noites de Lua cheia, a aldeia de aipotU suspendeu-se no tempo. Uma fogueira na praça foi continuamente avivada e todas as noites, sem falhar, todos os habitantes, sem que algum falhasse, se juntavam numa espécie de reza colectiva em prol da sua protectora. Quando a Lua alcançou a sua fase crescente, os habitantes tinham a mesma informação aquando da chegada do forasteiro: nenhuma! Só não estavam às escuras pelas chamas incandescentes da fogueira.
Foi então que o inesperado aconteceu. Nessa noite, enquanto em mantras desconhecidos em redor da fogueira, a população de aipotU parou o murmúrio ininteligível: em passos muito lentos e muito velhos, aproximava-se uma figura feminina vinda do castelo. No momento em que o seu rosto pálido, rugoso, sob um cabeleira farta, mas sem cor, os alcançou, os aldeões entoaram um ah colectivo de surpresa. Era Miriam, não a jovem oráculo, mas uma velha muito velha, tão velha que só a conseguiram reconhecer pelos olhos cintilantes.
Durante essa noite ninguém arredou pé. Todos queriam saber o que se passara. Mais do que isso, receavam que dali em diante a sua confiança no futuro estivesse em causa. Miriam juntou-se à fogueira e contou a sua longa história... pelas sete noites seguintes. Quando finalmente a Lua atingiu novamente a sua fase plena, Miriam adormeceu... eternamente.


O Abraço!*





Escrevo esta crónica no dia seguinte à morte de Gabriel Garcia Márquez. Dada a sua relevância na literatura contemporânea, é-me impossível passar ao lado deste acontecimento. Há homens que no dia em que morrem, fica a certeza de que permanecerão para sempre entre nós. Este é seguramente o caso do escritor, um dos mais importantes da actualidade.
O legado de Gabriel Garcia Márquez ultrapassa em muito a sua obra publicada. Tão-somente as suas histórias ultrapassam as páginas que se lêem quase sempre em catadupa. Quem abriu um livro seu, só terá ficado descansado ao chegar à última página. São histórias de pessoas singulares, lugares únicos, tempos imemoriais, cuja realidade ficcional concede um espaço e tempo mágicos a quem as lê.
Ao ler a sua carta de despedida, lágrimas percorreram o meu rosto que se abria num sorriso. Não pela perda, mas por reconhecer que para poder escrever é fundamental viver... viver totalmente: sem medo. Sobretudo sem medo de expressar o que se sente e sem deixar de dizer o que é essencial. Ou seja, não assumir que as pessoas que são importantes para nós, saberão disso.
Assim sendo, no momento seguinte à redacção da última frase, disse a uma pessoa muito querida o quão gosto dela. Disse-lhe igualmente que tinha um abraço muito apertado para lhe dar e que não podia esperar pelo dia seguinte. Não saberia se ainda estaria viva. Não podia adiar. Fui.
Deixei este texto a meio... ainda tinha tempo para o terminar, pensei. Talvez ainda estivesse viva horas depois.
E estava. Estou. Mesmo reconhecendo que este registo é diferente dos dois anteriores, senti-me compelida a redigir o que sinto. E sinto-me muito mais cheia. O abraço foi retribuído amorosamente. Quando me encontrei com a pessoa em questão, ficámos alguns momentos em silêncio. Não nos víamos há seguramente três anos. Um pequeno mal entendido fizera com que uma amizade de vinte anos ficasse suspensa. Após o longo e forte abraço, percebemos que durante aquele tempo de ausência nos perdêramos em caminhos tão sinuosos quanto distantes. E assim não partilhámos as alegrias entretanto vividas.
Foi necessário que alguém partisse, quem sabe para outras vidas que não visíveis aos meus olhos, para me lembrar que esta vida é demasiado precária para não sermos e expressarmos quem somos; para não abraçarmos aqueles que estando ao nosso lado, por vezes parecem tão longe.
E depois o que fica? A memória do que se poderia ter sido sem que o tivéssemos sido, ora por vergonha, ora por uma zanga ridícula.
E valeu a pena? Valerá antes a pena tocar com carinho e cuidado os que nos são queridos, lembrando sempre que somos o que nos permitirmos ser com as pessoas que estão ao nosso lado. Por isso, se ainda estiver com os olhos nesta página observe em redor, olhe para dentro: o que faltou dizer, que abraço faltou dar? Feche então o jornal e vá. Não deixe para depois. A pessoa que esperou tanto pode não esperar mais. Vá e leve as palavras de Gabriel Garcia Márquez consigo:
“... não espere mais, faça hoje, já que se o amanhã nunca chegar, seguramente lamentará o dia em que não tomou tempo para um sorriso, um abraço, um beijo e que esteve muito ocupado para conceder-lhe um último desejo...”


*Texto publicado no Jornal o Chapinheiro