Antigua





        

           Foi, sem mais ou menos, que parti da Guatemala sem muitos planos. Foi sem graça, nem pensando em qualquer desgraça que saí desse país, depois de duas semanas. O tempo não me diz nada. Uma porta que se abria ao aterrar na capital.
            A noite que precedeu o voo foi no aeroporto de Bogotá. Ao fim de dois meses, conseguia finalmente despedir-me - com até logo - das arepas com queijo, dos sorrisos gentis das pessoas colombianas, das paisagens verdejantes e também douradas, das músicas alegres. A boa-disposição genuína que senti nesse país, que toca a ponta mais a norte da América do Sul, está amorosamente guardada no meu coração. As memórias auxiliadas pelas fotografias serão um tesouro eterno na minha efémera existência.
            Os olhos muito verdes reflectem o mar de água tépida no meu corpo cada vez mais bronzeado. Dedos longos e ainda brancos do holandês no meu rosto. Mergulho sem me afundar.
            Dezoito horas na cidade da Guatemala. O suficiente na metrópole. Saí do albergue com Valentina, a jovem de Buenos Aires com quem vivi a minha primeira experiência de chicken bus. Da capital para Antígua - a cidade principal até ao terramoto que em 1773 dizimou grande parte do espólio colonial. A reconstrução e recuperação de Antígua transformou-a numa cidade muito colorida e organizada. Hoje muito turística, o destino preferido de muitos norte-americanos para aprenderem espanhol, por algumas semanas. É na antiga capital que se fala o melhor espanhol da América Central - um dos slogans que vende uma das suas potencialidades. Outras há, como o miradouro de Santa Teresa. Para além da vista encantadora sobre a cidade, as escadas até ao topo são um ginásio aberto para os locais e para os turistas e viajantes que gostam de se manter em forma.

            Subir ao vulcão Pacaya é uma alternativa, talvez mais interessante, de sentir o corpo em esforço e despertar todos os sentidos. Uma caminhada de duas horas, subindo pelo trilho de vegetação exuberante até à cratera com lava ainda recente. Depois dos olhos se regalarem com a paisagem no ponto mais alto sobre as cidades e lagos, as gomas previamente compradas foram ao forno natural. Tostadas, derretendo-se na boca. A estranheza da textura ultrapassou o adocicado dos pequenos cilindros de algodão e açúcar.
            A chuva semi-tropical apressou os caminhantes na descida do vulcão, comprovando-se a necessidade de ter sempre o impermeável na mochila.

            A tarde foi a desfrutar da cidade, admirando a arquitectura de estilo colonial espanhol e a saborear as especialidades guatemaltecas. Um trio de tacos vegetarianos para lanchar em modo jantar. Para fechar, uma sobremesa típica: banana recheada de feijões vermelhos. Uma mistura curiosa; sem dúvida deliciosa! Os grãos de açúcar, o toque final para estimular o sentido do gosto.
          O dia seguinte começou com alguma expectativa em relação à viagem para Panajachel. O destino para contemplar o lago Atitlán. Um lago rodeado por vulcões, onde se acredita estar o coração Maia. Após quatro chicken bus e outras tantas horas, sentava-me numa esplanada à beira-lago, escutando a serenidade das águas. A paz que sentia inspirou-me a escrever sobre essa viagem, de lugar em lugar, de assento em assento, de pessoas em pessoas. Valeu a pena o curto, mas intenso, susto que apanhei na troca de autocarros. Pelo menos há algo a contar...*



27 de Julho, 2015
Caye Caulker, Belize


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