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Com ou sem certezas, a minha adolescência
começou quando saíram os calendários com os cantores de música Pop, no início
da década de 1980. Na revista Bravo, as fotografias de cantores como os Wham
eram cortadas, coladas e admiradas por mim, pela Tété e pela Cristina nos
Olivais Sul. Para além de participarmos e organizarmos campeonatos de bilas e
de pião e de espeta, éramos acérrimas admiradoras dos ídolos que se começavam a
formar nos nossos corações adolescentes.
Passávamos tardes no quarto da Cristina.
Era ela quem tinha o álbum de vinil dos Wham, que incluía canções como Careless
Whisper, Wake me up before you go... Ah, como nos imaginávamos nos braços
daquele loiro de brinco na orelha: que ‘giro’, que ‘gato’, que ‘pão’... os
termos utilizados para nos referirmos àquele que para nós era, seguramente, o
cantor mais bonito à face da terra.
Com toda a certeza, a minha adolescência
ficou marcada por uma figura paternal pouco exemplar, ahahah, mas também com
certeza, marcada por uma figura assaz corajosa. Pelo menos é desse modo que fui
interpretando as metamorfoses que o tornaram ‘older’. Amores rápidos, últimas
tentativas com muita fé, em diferentes esquinas, íamos lá para fora, cantando
com ele contra a xenofobia, contra o preconceito.
Escutando as músicas do ‘Last Century’, em
liberdade, dancei, cantei muito feliz com a M.A em Coimbra, quando o George
Michael nos presenteou em concerto, ao vivo! Terá sido odiado, criticado, mas
certamente muito amado por quem sempre o admirou e cantou, escutando com
respeito as letras que ao longo do tempo nos ofereceu, que connosco partilhou.
A notícia de hoje provocou uma torrente de
doces memórias. Há que dizer, no entanto, que antes de viajar pelas recordações
vívidas promovidas pelas músicas que ouço desde as onze da manhã, telefonei a
chorar baba e ranha à L... Já não falávamos há quase dois anos, mas quando me
atendeu, a L sabia muito bem a razão do meu telefonema. “As pessoas estão a ligar-me,
como se eu fosse uma espécie de viúva...” As lágrimas eram assim facilmente
substituídas pelo riso. Como não rir? O George Michael faz parte de nós, desde
que despertámos para a música...
Morreu ontem, no dia de Natal. É quase
certo que no próximo Natal o seu ‘Last Christmas’ seja ainda mais emotivo.
Curiosa a data em que partiu, aos cinquenta e três anos: tão novo. Foi tão
cedo... Neste ano que está prestes a terminar, as perdas são já algumas. Em
Janeiro David Bowie, seguido de Prince em Abril e, há tão poucas semanas,
Leonard Cohen...
Claro que a palavra ‘perda’ tem um sentido
muito relativo quando é de vida ou morte que se trata. Não obstante, cada vez
que alguma pessoa que me é querida se despede para sempre, o carácter
definitivo do advérbio de predicado com valor temporal ‘sempre’ ganha novos
significados. Neste caso, é provável que me venha a lembrar sempre do dia da
sua morte, associando sempre a um último natal...
26 de Dezembro de 2016
Matosinhos, Portugal
Minha amiga, companheira de lágrimas e alegrias, hoje e sempre...
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