15 de Abril
de 2014
Hoje fui dar sangue. Apesar dos níveis da hemoglobina estarem
um pouco abaixo do ideal para a dádiva, a médica foi compassiva e autorizou.
Lembrou-se de mim. No mês passado desloquei-me ao IPO para esse efeito, mas o
sangue apresentava-se ainda mais débil. Dessa vez fiquei um tanto desapontada –
não estava a contar com a rejeição. Não que seja de todo estranho; pelo
contrário. Era até frequente. Mas em 2012, quando regressei da Índia, alterei
definitivamente os meus hábitos alimentares. Retirei o animal da roda de
alimentos e o sangue como se revigorou. Na época fiquei agradavelmente
surpreendida. Seis meses depois de ter passado a alimentar-me de forma
distinta, estava com os níveis da hemoglobina nunca vistos!
Quando regressei da Austrália em 2013, fiz uma tatuagem. Era
necessário esperar pelo menos seis meses até nova dádiva. Não aguentei tal
espera e duas semanas antes de findar o prazo, como estava no IPO para ver uma
amiga, pensei ser o momento certo. E foi. Saí feliz do IPO. Dera um pouco de
mim e sentia-me muito bem fisicamente.
Uma meia verdade à médica quando perguntou se fizera alguma
tatuagem, piercing ou endoscopia (e afins) nos meses anteriores. Afinal, duas
semanas não fariam diferença, pensei: era uma questão de protocolo.
Há uns tempos, em conversa num grupo de pessoas que se haviam
reunido para uma meditação colectiva, mencionei que era dadora. A facilitadora
do grupo disse algo que me fez pensar. Contesta totalmente as dádivas de
sangue: na sua perspectiva, dar sangue tem implicações sob o ponto de vista
energético. Isto é, ao dar o meu sangue este será distribuído sabe-se lá por
quem, com a agravante de isso me provocar um qualquer desequilíbrio. A mesma
pessoa era apologista da atitude dos crentes em Jeová: recusam liminarmente a
transfusão de sangue. Mesmo quando a vida está em perigo. Desconheço a razão. O
que sei é o do senso-comum – não aceitarão por entenderem que o sangue é
proibido da alimentação e que a dádiva da vida é concedida apenas por deus.
Ainda cheguei a pensar se seria por um motivo semelhante à da facilitadora: a
de rejeitarem os fluídos de estranhos.
Nunca reflectira sobre o assunto até então. A tal pessoa
reiterava veementemente a necessidade de nos resguardarmos e protegermos nessa
dimensão; para si, muito mais que biológica. Como se depreende, as minhas
cogitações não me conduziram à negação de me partilhar no pouco que sou. Na
realidade, creio que todo a pessoa dadora de sangue se sentirá grata ao
escutar: “sim senhora, está apta a dar sangue!” É com efeito um sentimento de
gratidão que se difunde pelo meu ser.
A partilha também é isso. Pelo menos para mim. Dar sem
esperar absolutamente nada em troca. A dádiva de sangue é provavelmente um dos
exemplos mais ilustrativos do que me para mim significa a partilha. Não faço a
mínima ideia de quem será a pessoa receptora de parte do sangue que me corria
nas veias e artérias. E contudo... que paz sinto por terem aceite o que eu
queria dar. Muito obrigada!
É fantástica esta dádiva aos outros, acho que fazer o bem sem olhar a quem é uma máxima muito real e sentida por nós dadores. Sentir que podemos ser úteis de alguma forma, dando algo que só a nós pertence é muito gratificante.
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