O dia 6 de Agosto é internacionalmente dedicado à
Solidariedade (o dia de aniversário do Tio Zé Alberto - o benjamim dos Nunes
Pereira; aproveito para o felicitar).
Ciente das minhas limitações, questiono-me amiúde
acerca do mundo que me rodeia e em que vivo, acerca dos seres humanos com quem
me cruzo e com quem interajo e me relaciono de modo mais ou menos próximo.
Apesar da fragilidade do que vou publicando, e
admitindo que poderia aprofundar mais, acredito e confio que a partilha de
determinadas ideias e até mesmo anseios pode suscitar, pelo menos, alguma
reflexão por parte dos leitores. Por conseguinte arrisco no tema da
solidariedade.
Comecei por perguntar a diversas pessoas o que
compreendem por solidariedade e se se consideram pessoas solidárias. As
respostas foram várias, o que sugere um entendimento diferenciado do conceito.
Não obstante, todas detinham um ponto em comum: a ideia de partilha.
Segundo um dicionário, a solidariedade é o
sentimento que leva a prestar auxílio a alguém; é a responsabilidade recíproca
entre os elementos de um mesmo grupo (social, profissional, institucional ou de
uma comunidade); é a adesão ou apoio a uma causa, a um movimento ou princípio;
pode ser também o sentimento de partilha do sofrimento alheio.
De acordo com outro dicionário, a solidariedade é
um acto de bondade com o próximo ou um sentimento, uma união de simpatias,
interesses ou propósitos entre os membros de um grupo; é a cooperação mútua
entre duas ou mais pessoas; é a interdependência entre seres...
Quanto aos sinónimos, entre outros encontram-se os
seguintes: ajuda, amparo, apoio, companheirismo, interdependência.
Cooperação, interdependência, partilha,
reciprocidade - elementos inerentes à ideia de solidariedade.
Quando agimos e vivemos em cooperação, estamos
atentos às necessidades dos outros. Nesse agir, é mais do que frequente que
recebamos ajuda alheia para alcançar os nossos próprios intentos. Mais do que
isso, é usual que, em situações de competitividade, a cooperação seja fundamental
para o melhor cumprimento de objectivos mútuos, ainda que pessoas ou empresas
ou instituições ou clubes, etc., sejam concorrentes entre si.
A interdependência pressupõe que estamos todos
dependentes uns dos outros. Por mais independentes que aparentemente sejamos, é
indubitável que sozinhos (quase) nada possamos fazer, que sozinhos (quase) nada
possamos ser. Sendo certo que as circunstâncias em que nos encontramos em cada
instante decorrem do contributo de muito mais pessoas (e instituições) do que aquelas
que conhecemos. Motivo pelo qual, aliado ao conceito de solidariedade, está,
inevitavelmente, o sentimento de gratidão. Pelo menos para mim.
Adicionalmente, não há como descartar o facto de
sermos todos, sem excepção, seres vivos da mesma Natureza. Cada ser vivo tem o
seu papel e função no ecossistema do qual faz parte, influenciando e sendo
influenciado por outros seres vivos. E cada ecossistema interage no seu todo
com todos os outros ecossistemas, de forma mais ou menos visível, mais ou menos
intensamente. As repercussões são incalculáveis, são intangíveis. Depreende-se ‘apenas’
que as vidas estão todas ligadas, que estamos todos ligados, que dependemos
todos, sem excepção, uns dos outros.
A reciprocidade surge, assim, de forma natural,
como natural poderia ser partilhar todos os bens materiais e imateriais que nos
estão disponíveis. Sim, disponíveis hoje, mas não necessariamente amanhã.
Parecem ser ‘nossos’ hoje, mas a posse, não só é relativa, como momentânea e,
com frequência, até aparente.
É neste contexto que a solidariedade pode ser
vivida de forma contínua, sem pensar, sem hesitar. Basta que estejamos um pouco
atentos para, em momento algum, nos esquecermos que se alguém necessita de
ajuda, esse mesmo alguém poderíamos ser nós próprios. E se alguém está a passar
por uma situação difícil, é possível que também nós ou uma pessoa que nos seja
muito querida venha a passar por algo semelhante. E mesmo que tal,
aparentemente, seja totalmente improvável, que importância tem isso?
Relevante é o facto de alguém estar a precisar de
ajuda e, estando nós mais ou menos próximos, com mais ou menos capacidade para
intervir, tenhamos pelo menos o cuidado de olhar para a pessoa de forma
compassiva, de forma empática.
Por vezes, para ser solidário basta olhar, sem
desviar o rosto, sem desviar a atenção. Basta reconhecer que o outro é um
prolongamento de nós próprios... E isso, sem dúvida, faz toda a diferença!
*Este texto foi publicado no Jornal Chapinheiro