Um postal*

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Foi a cinco de Outubro de 1143 que se reconheceu, em Zamora, Portugal como um Reino independente. Curiosa a coincidência de datas. Também foi a cinco de Outubro que Portugal se constituiu como República. Numa véspera das comemorações, a quatro de Outubro de 1907, morria Alfredo Keil, o compositor da música do Hino Nacional, 'A Portuguesa'.
Coincidência ou não, o período em que me encontro na América Central está pleno de festividades para celebrar a independência de países como o México, Nicarágua, Guatemala e Costa Rica. Em 1821, os espanhóis finalmente cediam o seu domínio nestes e noutros países da América Latina. Este não é um fenómeno de outros séculos. Infelizmente, as imagens que nos chegam mostram o contrário! O pior são as vidas que se perdem e destroem. O que será preciso para que os homens se tornem mais humanos? Talvez se celebrassem e vivessem mais a infância se esquecessem um pouco das lutas pelo poder, pelo território, enfim, das guerras elas mesmas. No dia 6 de Outubro comemora-se o dia Mundial da Infância. Fica a sugestão para sermos como as crianças e, em vez das guerras, brincarmos um pouco mais.
O dia nove deste mês é dedicado mundialmente aos Correios. Com o desenvolvimento das telecomunicações e da tecnologia cada vez menos recebemos cartas e/ou postais. Sem dúvida que hoje as comunicações são muito mais rápidas. Apesar das caixas de correio 'tradicionais' estarem cada vez mais vazias, as de correio electrónico enchem-se de pequenas mensagens, facilitando o contacto entre as pessoas que nos são queridas. Não obstante, confesso que adoro receber um postal ou uma carta de quando em vez. Por isso não é raro enviar postais quando viajo. Mesmo não estando presente no momento em que a pessoa a quem enviei a missiva a recebe, só de pensar no seu sorriso, também eu sorrio.
Há quanto tempo não envia uma carta? Experimente. É quase certo que receba uma resposta pela mesma via. E quando isso acontece, é tão bom! Como diz uma amiga, a felicidade é feita de pequenos grandes momentos. Na minha perspectiva, cabe a cada um de nós criar as condições para que esses instantes sejam, não só mais frequentes, como mais largos. Fica então mais uma sugestão.
Outra coisa que me faz sorrir, dançar, partilhar, a ser feliz é a música. O mês de Outubro começa exactamente com o dia 1 a celebrar internacionalmente a música. E é tão fácil. Basta ligar um rádio, ou um qualquer engenho e aí está alguém a cantar, a tocar só para nós. Às vezes quase adivinhando o que nos apetece escutar. Quando ligo o rádio e está a tocar precisamente a música que cantarolava interiormente, o meu rosto rasga um sorriso. Já lhe aconteceu? Também nesta dimensão, o desenvolvimento tecnológico é fantástico. Num instante podemos encontrar o que quer que seja para corresponder ao estado de espírito em que nos encontramos. Melhor ainda, podemos encontrar uma música ou canção que nos altere o estado de espírito. E isso é maravilhoso. Pessoalmente, mostra-me, mais uma vez, que com efeito sou eu a responsável por criar mais condições para ser feliz. E a música em muito me ajuda.

Aliás, escrever uma carta ao som das músicas preferidas pode ser muito inspirador. Assim como instalar-me com a melhor banda sonora e ler uma carta acabada de abrir. Creio que se o tempo for despendido em mais actividades deste género, criamos mais ligações, estimulamos mais os afectos. No fundo, cultivamos a nossa felicidade ao mesmo tempo que contribuímos para a felicidade dos que nos rodeiam. E não é também isso ser feliz? 


*Este texto foi publicado no Jornal Chapinheiro

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