Noite em Iguaque *


Fecho a porta. Apago as luzes. Tranco a porta por dentro. Calo as vozes das crianças. Vai amor, que a noite é velha. E quem amou já não sente. Não assim. Choro. Maltratas-me. Bebeste demasiado. Hoje, como na semana passada.
Fecho a porta. Apago-te da minha vida. Lá fora, as estrelas e os pirilampos iluminam a noite. A casa está na obscuridade. Assim partiste o meu coração. Triste. Desiludida. O desamor habita-me. Os nossos filhos merecem mais que um pai que gasta tudo em álcool. Pior que esse desperdício são as tuas palavras. Pior que as tuas palavras são as tuas mãos brutas. Basta!
Fecho a porta. Apago as luzes. Apago-te da minha vida.
Vamos acordar. Amanhã de manhã. Vamos acordar. Tu, na rua como um cão. Eu com os filhos, em casa que deixou de ser a nossa. Vais pedir como um cão depois da ressaca. Pediste como um cão - acusaste-me tantas vezes. Desisti de contar. Os cães são fiéis. Tratam bem os donos.
Amanhã de manhã. Vamos acordar. Quando abrires a porta não estarei. Os teus filhos não precisam de ti. Assim! Não sabem o que é um pai.
Amanhã de manhã, acorda. Desperta. Ainda vais a tempo. Não de nós! Pelo menos de ti. Liberta-te da ressaca. Quem sabe, um dia, os teus filhos conhecerão o verdadeiro pai.
Fecho a porta. Esta noite. Amanhã de manhã. Vamos acordar.


*  Este texto foi escrito depois de ter acordado com a vizinha a bater-me à porta... Com medo. 


19 de Junho, 2015

Iguaque, Colômbia

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