Rio 2016... Desde o Rio de Janeiro *







Desde o Rio, quase em Games Times. A terminologia usada para o tempo real de Jogos Olímpicos. É neste período que me encontro no momento em que escrevo esta crónica – a menos de duas semanas da cerimónia de abertura. Não resisto, por isso, a dedicar esta crónica ao maior acontecimento desportivo do planeta: os Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Arrisco a afirmar que é, sem sombra de dúvida, o maior evento a nível mundial. 

Em cada quatro anos, temos a oportunidade de unir no mesmo lugar e ao mesmo tempo, pessoas de todos os países, de culturas de todos os quadrantes, com idiomas distintos, mas todas ligadas pela mesma linguagem – a do desporto! Para mim, juntamente com a do amor, esta é a linguagem mais bem entendida, qualquer que seja o grupo ou categoria socialmente criada. O desporto tem essa grande vantagem: não necessita de tradução. Basta viver, participar. Quando a bandeira de um país é hasteada, a emoção é intraduzível. Não há necessidade de intermediários: as lágrimas de emoção não precisam de legenda!

O objectivo é o mesmo para todas as pessoas que se encontram no Rio de Janeiro: vivenciar o desporto, partilhando com alegria os momentos e as diferentes experiências, quer seja como atletas, como espectadores, como voluntários, quer seja como trabalhadores. Todas com o mesmo intuito: tornar os Jogos numa experiência inesquecível para todos aqueles que de uma forma ou doutra estão envolvidos.

É como colaboradora internacional que me encontro na equipa de ciclismo de estrada e BMX (uma modalidade recente nos Jogos, inspirada no motocross). Pela primeira vez na vida estou dentro da acção. Faço parte dos Jogos. Ajudo a Fazer Acontecer, pela Paixão que nos une! – outra das expressões que muito escutamos. Como muitas pessoas que vou conhecendo, estou a concretizar um sonho! Estou por dentro dos Jogos! A emoção e a gratidão são indizíveis. 

Cheguei no início de Junho, para colaborar até ao final dos Paralímpicos. Durante estes três meses e meio, pouco tempo há para além da preparação e concretização dos Jogos. Ou seja, durante este tempo, juntamente com muitas outras pessoas, fazemos tudo para fazer acontecer

Quando recebi o convite para integrar esta experiência, a primeira coisa que me passou pela cabeça foi: “É mesmo verdade?” Vivi um laivo desse êxtase em Outubro passado, ao participar como voluntária no evento-teste de Mountain Bike (competição de Bicicleta Todo o Terreno, vulgo BTT). Desde então, e até receber a boa notícia, alimentei esse sonho: fazer parte do Time Rio 2016! O sonho concretiza-se a cada dia, a cada hora. 

Um amigo perguntava: mas porque fazes tanta questão de ir trabalhar sem receber nos Jogos Olímpicos? Quando ainda “só” tinha a expectativa de ser voluntária. É provável que a sua dúvida seja a de muitos em relação aos voluntários. Todavia, para todas as pessoas que têm uma mais ou menos forte ligação ao desporto, os Jogos Olímpicos não são um acontecimento qualquer: são O Acontecimento! 

Basta perguntar a um praticante de desporto amador de uma qualquer modalidade, basta observar um atleta a subir ao pódio, basta pensar em todos os pequenos e grandes sacrifícios que todos os atletas realizam para serem seleccionados para a comitiva do seu país. Não há palavras. A minha reposta ao meu amigo.

Independentemente do que venha acontecer amanhã, as horas vividas num frenesim frenético compensam todas as horas de cansaço, sem dormir e de alimentação duvidosa. Mas como diz a líder da minha equipa, estou aqui para trabalhar. Num ritmo de pelo menos onze horas por dia de trabalho, o contacto com uma realidade tão distinta, mostra-me e confirma-me pelo menos duas coisas: os sonhos podem realizar-se e sim, senhora, sou uma pessoa privilegiada. E, porque não dizê-lo, bendita, abençoada, protegida, agraciada – qualquer que seja o sentido que se conceda a essas palavras.

A minha intenção com todos estes adjectivos é tão-somente expressar o sentimento com que desperto todas as manhãs: o de profunda gratidão por estar aqui. E por inúmeros motivos. Um deles, o de conhecer gente de todo o mundo, de contactar com pessoas que, com ou sem ganhos financeiros, se dedicam de corpo e alma, ultrapassando cada desafio como quem brinca. Trabalhando como quem vive um propósito maior.

É certo que com sacrifícios, mas a vida também é isso: aceitar as consequências das escolhas como inerentes ao processo. Atrevo-me a afirmar que o significado de sacrifício ganhará novos sentidos quando, no dia 5 de Agosto, os Jogos Olímpicos forem formalmente inaugurados com a Cerimónia de Abertura. Pela parte que me toca, tenho certeza que no dia 6 de Agosto, quando os ciclistas atravessarem a linha de partida estarei a chorar baba e ranho. 
Por isso, caro leitor ou cara leitora, se esta crónica lhe parecer curta ou mal escrita ou com pouco sentido, seja compassivo(a) para comigo... Os meus olhos há já muito que gritam para que lhes dê algum descanso.

Sugestão: esteja atento ou atenta a partir do dia 5: os Jogos Olímpicos estão a começar no Rio de Janeiro - a Cidade Maravilhosa... Vale a pena sentar no sofá e ver o que se passa deste lado do oceano. Afinal, os Jogos Olímpicos só acontecem de quatro em quatro anos e, este ano, o português é a língua mais falada!!







 
 *Este texto foi publicado no Jornal O chapinheiro

Entre o Funchal e o Rio de Janeiro*






Esta e as próximas crónicas terão o sotaque carioca. É no Rio de Janeiro, sentada numa 'lanchonete', que a caneta desenha as palavras na sebenta. Respondi a um chamado para trabalhar na organização dos Jogos Olímpicos e aqui permanecerei até ao fim de Setembro. A distância não me tem impedido de aqui estar com o leitor ou leitora. Na verdade, com o desenvolvimento das telecomunicações, tenho acesso a quase toda a informação que necessito.
Um dos locais privilegiados para aceder ao mundo, mesmo que virtual, é sem dúvida a biblioteca - para mim, um dos lugares mais ricos que existe. Por isso, não consigo deixar de passar ao lado do dia 1 de Julho - o dia que lhe é dedicado -, mesmo que me repita. Qualquer que seja a biblioteca, encontro sempre um livro, uma inspiração, uma voz de outro lugar, de outro tempo...  O meu mundo aumenta, assim, de dimensão. Tenho a certeza que, também aqui no Rio de Janeiro, encontrarei uma biblioteca, onde requisitar os livros que não trouxe e quem sabe sentar-me a escrever ao som das palavras no ar.
O mundo está muito mais pequeno. Mesmo que esteja a milhares de quilómetros, com o auxílio tecnológico, é muito fácil comunicar com as pessoas que se encontram no outro lado do Atlântico. Foi isso mesmo que fiz para a redacção desta crónica. É que no primeiro dia de Julho também se comemora a Região da Madeira e as suas comunidades.
Em Maio passado tive a oportunidade de passar duas semanas extraordinárias no Funchal. Aceitei mais um convite e integrei a organização do Campeonato Europeu e Open de Natação Adaptada, dessa vez como voluntária (um dia destes desenvolverei o tema do voluntariado). Parece-me, pois, ser tempo de partilhar com o leitor ou leitora um pouco da beleza da ilha da Madeira, à qual se dá o título de Pérola do Atlântico - a meu ver, com toda a razão.
Para tal, recorri a um grande amigo madeirense. Desta forma, em vez de transmitir uma perspectiva enviesada de alguém que esteve apenas de passagem, o leitor ou leitora poderá absorver, sem filtros, um pouco da voz da Madeira.
"No dia 1 de julho é assinalado o dia da Madeira e das comunidades madeirenses. Muita gente desconhece, mas certamente não haverá uma família madeirense que não tenha familiares emigrados por vários países. Mesmo assim, é na Madeira que optam por depositar esperança e retornar para viver dias mais verdes e risonhos.
O ilhéu precisa do mar para se inspirar e deslocar. É como muitos peixes que migram para zonas mais profícuas, mas nunca esquecem as suas origens e as suas gentes. Os que cá ficam criam raízes, abrem-se ao mundo, zelam pelas suas tradições e fazem da hospitalidade e da tradição as suas ferramentas mais importantes. Saibamos ser ilhéus, saibamos preservar a amizade e solidariedade e continuemos a fazer da nossa pérola um verdadeiro paraíso de ilhéus" (cortesia de Jorge Soares).

Naturalmente que muitas outras datas se poderiam aqui enaltecer. Renovo a minha preferência pelo dia do Amigo, que se celebra no dia 20. É certo que, como todos os afectos, não precisamos de um dia em especial para celebrar a amizade. A amizade vive-se no dia-a-dia, através de gestos mais ou menos pequenos. Independentemente da sua dimensão, cada gesto é grandioso. Quem me lê concordará que o número de amigos também é irrelevante. Seja uma amizade mais ou menos profunda, mais ou menos próxima (no espaço), a verdade, é que basta um amigo ou amiga para que me sinta amparada e/ou indispensável. Aproveito, pois, parar expressar gratidão às pessoas que aceitam a minha amizade e me fazem sentir amparada e protegida.

O dia 26 é igualmente uma data a destacar, mesmo que este ano seja com profundo pesar que ao dia dos avós me reporto. Nos anos anteriores, utilizei o espaço que aqui me é concedido para exaltar este dia. A única Avó que tinha partiu... A modista (o dia 23 é consagrado à modista e ao alfaiate), que durante décadas costurou tantas vestes para as gentes de Nogueira, despediu-se em Fevereiro passado. A Avó Altina, a Tia Altina... É com emoção que escrevo. A minha avó está em mim e parte do que sou hoje resulta da sua pessoa. Assim como é provável que todos os avós estejam, de algum modo, impregnados nos seus netos. Celebremos, pois, os avós que continuam em nós, de uma ou outra forma...

 * Este texto foi publicado no Jornal O Chapinheiro