Dizem que o Natal é
quando uma pessoa quiser. Partindo desta premissa, creio que posso dizer o
mesmo em relação a qualquer outra data invocativa de uma qualquer celebração ou
comemoração. Por exemplo, pegar na data de aniversário de alguém que represente
uma figura comummente celebrada e enaltecer essa figura, um símbolo ou até a
própria pessoa.
Assim sendo, recorro ao
espaço que me é concedido neste jornal de Nogueira do Cravo para evocar e exaltar
o dia do pai. Neste caso, aproveito a data de aniversário do meu pai, o Amadeu
Pereira, que em 2017 completa 71 anos no dia 17 de Setembro. Que engraçado... só
quando registei no papel é que me apercebi da capicua: 71 a 17 (em 2017). Ora,
ainda bem que pela primeira vez, em quase quatro anos, decidi escrever directamente
sobre o aniversário do meu pai, do Pai.
Parabéns!, pai Amadeu.
Parabéns! por teres alcançado esta idade tão bonita, de forma tão jovem e
jovial. Parabéns, pai!
Obrigada, pai, por
sempre me apoiares, até nas decisões mais difíceis, em que nem sempre terás
compreendido os meus modos, as minhas escolhas, os meus caminhos... Obrigada!
Obrigada por me fazeres sentir protegida.
Poderia continuar a usar e abusar deste espaço no
Chapinheiro para enaltecer o meu pai, prefiro, no entanto, louvar todos os pais
e lembrar a todos aqueles que, como eu, têm o privilégio de ser filho ou filha
de uma pessoa que fez, que faz e sabemos que fará tudo o que esteve, que está e
estará (para lá do) ao seu alcance para nos ajudar, apoiar no que for (e até
nem) for necessário – mesmo que em determinadas momentos lhes seja difícil
lidar com aquilo que até nem concordam, com aquilo que até lhes causa algum
desgaste. Mas acreditando sempre, como é o caso do Amadeu – e acredito que seja
o caso de muitos pais –, que o caminho escolhido pelos filhos terminará num
destino que afinal era o que eles, de um ou outro modo, sempre desejaram,
sonharam e trabalharam para que fosse atingido: a felicidade dos seus filhos.
Sim, porque sei que não estou a escrever sobre um
amadeu ou um pai em particular. Reporto-me a qualquer progenitor. Todos, sem
excepção, fazem o melhor que sabem e (quase) sempre o melhor que podem para
assegurar o bem-estar e felicidade dos seus filhos. Ainda que não saibam quais
os princípios para a felicidade dos mesmos. Afinal, esse conceito é tão
abrangente quanto relativo, tão desejado quanto ambíguo e tão simples como
difícil de o viver na prática. Não obstante, é sem dúvida esse o objectivo da
maioria dos seres humanos: ser feliz. Sabendo que num mundo onde os valores são
vividos de forma relativa, em que tudo depende de tudo (ou até de nada).
Por aquela razão relativa, também sei que o que me faz
feliz é (ainda) distinto daquilo que faz o meu pai feliz. Como é distinto em
todas as pessoas que têm entre si, pelo menos, duas décadas de vida vivida.
Importa-me destacar a ideia de que ser filha de um pai
como o Amadeu, é, indubitavelmente, um privilégio. Um privilégio do qual me
sinto profundamente grata – ainda que em determinadas épocas tenha sido eu a
não compreender certas decisões suas. E isto é válido, estou certa, para quase
todos os filhos que nem sempre concordaram em seguir o caminho apontado e até
escolhido pelo seu pai.
Repito-me: o meu pai, sei e sinto hoje, fez e escolheu
e decidiu de acordo com a informação que lhe estava disponível e, como tal, do
melhor modo que lhe era possível. Muito obrigada, pai!
Bom, agora que tive os meus dez minutos, não de fama,
mas de atenção do querido ou querida leitora, faço-lhe um convite: vamos ao
cinema. Humm... não é uma ida ao cinema vulgar. Convido o leitor ou leitora a
sentar-se na poltrona da sala – aquela em que o pai se costuma sentar para ver
o jogo do Sporting (ahah), para ler o jornal ou fazer a sesta. Não sem antes
resgatar uma fotografia da sua infância em que está a jogar à bola, ou a andar
de bicicleta ou a jogar ou a brincar ao que quer que seja com o seu pai.
Observe a imagem, já sem cor, mas vívida na memória. Pouse a fotografia e feche
os olhos, em silêncio, e viaje até esse instante e deixe-se levar pelas cores,
pelos cheiros, pelos sons das gargalhadas...ahhhhh
*Este texto foi publicado no Jornal Chapinheiro