No dia 1 de Julho, a TAP – transportadora aérea
portuguesa – celebra mais um aniversário. A sua inauguração ocorreu em 1953.
Mas em Portugal, é sabido, esse é apenas o corolário de séculos de histórias,
de séculos na História dos Descobrimentos. Não fosse o povo português um povo
ávido pela descoberta de novos ‘mundos’.
Foi em Julho, também, mas no dia 8 em 1497, que Vasco
da Gama iniciou a viagem marítima desde a Europa, até à Índia. É possível que o
ensejo para os Descobrimentos tenha sido suscitado pela necessidade de
expansão, de expansão do território. Sendo certo que não existia mais espaço
terreno a conquistar e descobrir nas imediações, o mar, o além-mar tornou-se o
desconhecido a descobrir... a conquistar, também...
É de realçar o contributo que os portugueses, desde o
início do século XV até meados do século XVI, tiveram na composição dos mapas através
das explorações marítimas por todo o mundo. O ‘Planisfério de Cantino’ ilustra
isso mesmo, sendo a mais antiga carta náutica portuguesa conhecida. Data de
1502 e resulta daquela mesma viagem de Vasco da Gama, juntamente com a de
Cristóvão Colombo à América Central, Gaspar Corte-Real à Terra Nova e a de
Pedro Álvares Cabral ao Brasil, em 1500.
Já no século XX, outras viagens se estrearam. Viagens
que, pelo menos na minha perspectiva, demonstram o desejo incontestável da
humanidade em descobrir novos lugares, lugares além do limite planetário. E
assim, em 1969, no dia 16 de Julho, era lançada Apollo 11 – a primeira missão
espacial tripulada que, quatro dias depois (contabilizados pelo relógio terreno),
aterrava na Lua. E assim, no dia 20 de Julho de 1969, Neil Armstrong era o
primeiro homem a pisar solo lunar. Materializava, deste modo, o mapa lunar,
ampliando, por consequência, a espacialidade ‘palpável’ do universo.
Se este evento já aqui foi referido, o tema desta
crónica motiva-me à sua alusão. Tão-somente demonstra a necessidade que o ser
humano tem de conhecer e expandir os seus limites. A necessidade, parece-me, de
ultrapassar as suas próprias fronteiras, sejam elas físicas, territoriais,
sejam psicológicas, emocionais, ou de qualquer outra índole. Por conseguinte,
questiono-me amiúde acerca da possibilidade de vivermos sem limites, sem
fronteiras – reporto-me, em concreto, à ausência de limites e fronteiras
territoriais, à ausência de muros fronteiriços e todos os sinónimos que se
possam aqui incluir.
É muito provável que as viagens me tenham aberto os
olhos, e ampliado os outros sentidos para outras experiências sensoriais.
Sim, são incontáveis os estímulos a que tenho estado sujeita, através do espaço
além-fronteiras e, por consequência, experimentando a passagem de fronteiras;
uma passagem tantas vezes aborrecida.
‘Aborrecida’ é um adjectivo aplicável para quem se vê
obrigado aos procedimentos de segurança, controlo e vigilância dos serviços de
estrangeiros e fronteiras. É uma situação ‘aborrecida’ pelos incómodos que
causa a todos quantos viajam por uma razão ou por outra. Todavia, esse é apenas
um dos inconvenientes das fronteiras. Talvez seja o mais facilmente aceite, de
todos os aspectos desconfortáveis inerentes às viagens. Pode passar a imagem de
uma menina petulante e/ou mimada. Mas trata-se, sob o meu ponto de vista, muito
mais do que um contratempo. Para mim, é a constatação da fronteira, do limite,
do muro construído que obsta a um passo livre no território, a mais um passo no
mundo, no planeta.
Por isso, mimada ou petulante, em cada passagem pelos
corredores fronteiriços, em cada carimbo no passaporte, questiono-me sobre a
necessidade, para mim vazia de sentido, em abrir ou passar pela câmara de
vigilância os meus poucos pertences, como se fosse uma criminosa.
Ademais, nos dias de hoje, a distância que separa o criminoso de um terrorista
é uma separação apenas aparente. Aos olhos de quem controla os postos
fronteiriços todos são suspeitos, todos sem excepção são alvo de controlo.
Todos sem excepção são vigiados: para quê? Para manter a ilusão: “O meu país
está seguro”, ou, “No meu país, só entra quem eu quero”, ou “No meu país quem
manda sou eu”. No limite: “Este país é só para quem eu deixo entrar”.
Estou a exagerar, é certo. Mas o exagero permite a
caricatura e a caricatura também é o excesso possível: um excesso visível!
Seria interessante perscrutar os políticos – os
presidentes das repúblicas, ou federações por exemplo – e incitá-los a desenhar
o mapa do mundo à luz dos seus desejos mais recônditos, mesmo que insidiosos.
Seria interessante observar a dimensão que cada um daria ao ‘seu país’. Talvez
baste abrir os manuais de geografia e história de cada país. Talvez a
comparação mostre diferenças no destaque. O mapa-múndi da Rússia será
certamente díspar do mapa-múndi dos EUA.
Pergunto-me, ainda, se a perspectiva com que nos são
mostrados os mapas é casual. Porquê o norte assim e o sul assado, colocando no
hemisfério norte os países ditos desenvolvidos... quando o planeta Terra é
redondo (ou uma elipse).
Bem sei que estes são assuntos algo polémicos. Na
verdade, se se pensar no primeiro Rei de Portugal, nascido no dia 25 de Julho
de 1109, e se se pensar no seu cognome – o Conquistador –, logo se encontram
mais achas para a fogueira da territorialidade e para o desenho dos mapas
políticos... e quantas vidas se continuam a perder para ganhar mais um
centímetro de poder...
Para terminar e terminar de um modo mais terno,
relembro o dia 26 de Julho: o dia dedicado aos avós. Este ano exaltarei os avós
dos meus queridos sobrinhos, e o leitor e a leitora?
*Este texto foi publicado no Jornal Chapinheiro