Avós...*
Avó. Avô. Dia 26 de
Julho. Dia dos avós, dia das avós. E dos netos? Será necessário um dia dos
netos? Pouco provável. Se existe um dia do avô ou da avó, significará que os
netos têm de ser lembrados. Não há dia do neto ou da neta (pelo menos que eu
saiba), tão-somente por ser caso raro que algum avô ou avó se esqueça dos seus
segundos filhos. Como também não há dia do filho ou da filha, mas do pai e da
mãe. Novamente para lembrar os filhos dos seus pais.
Avó. Avô. Dia 26 de
Julho. Dia dos avós, dia das avós. Não sou mãe, e muito menos avó. Sou filha,
sou neta. Mas há uma coisa que sei sentindo, sei vivendo, sei estando: os avós
têm tanto para dar e às vezes não têm quem receba a imensa sabedoria, o imenso
carinho, o imenso que são...
Onde estão os netos? Onde
estamos nós? Sempre a correr de um lado para o outro. Sem tempo para estar e
ser com os mais velhos que não são trapos. São pessoas com muitos anos de vida.
Por isso com muitas experiências. Por isso com muita sabedoria. Por isso
cheias... a transbordar. Só há uma coisa que interessa aos avós: DAR!
Quando se dá o caso
dos filhos terem já os seus filhos, ficam com a possibilidade extraordinária de
dar continuidade ao ciclo da vida. Têm, pois, capacidade de oferecer aos seus
pais o estatuto de avós. Mas isso não chega! Qual é o avô ou a avó que fica apenas
satisfeito por ter mais um neto?
O avô e a avó ficam
felizes quando podem ser avós – estando com os netos. Sobretudo, dando-se aos
netos. É por essa razão, talvez, que às vezes parece que o que têm para dar é
demais. Demais no sentido em que mimam os netos. Ora! Mas para que servem os
avós? Para mimar, pois claro. Não apenas, mas sobretudo. E porque não, papás?
Afinal de contas também é preciso. Mimar no sentido em que os avós educam sem
ralhar, educam sem castigar, educam dando e dando tanto! Tanto que até parece
demais. Mas não é demais, papás. E os vossos filhos não ficam meninos mimados
só porque são netos, sendo netos com os avós. Porque aos netos também não basta
o estatuto de neto ou neta. É preciso, é fundamental, é imperioso ser neto ou
neta, estando com os avós.
“Os avós estragam os
netos de mimos”. Não estragam nada! Isso é um mito. As crianças são muito mais
inteligentes do que o que eventualmente parecem. Muito simples: as
crianças são os seres mais resilientes. As crianças são as pessoas com maior
capacidade de adaptação às circunstâncias da vida. Desde muito cedo aprendem
todas as regras sociais, normas, valores que lhes são transmitidos. Significa
isso que, quanto mais vivências as crianças experimentarem, maior será a sua
capacidade de adaptação. Assim sendo, há uma coisa que todos os filhos dos
papás, todos os netos dos avós sabem: há regras a respeitar como filho e regras
a respeitar como neto. Assim como há regras que se podem desrespeitar com os
papás e regras que se podem desrespeitar com os avós.
“Ah, mas os meus
filhos devem ir cedo para a creche ou para o infantário para socializarem e
terem muitos estímulos e para aprenderem muitas coisas”: basicamente para
estarem fechados numa sala desde a mais tenra idade, quando podiam, por exemplo,
brincar com outros meninos na rua dos avós, aprender com as histórias dos avós,
enfim... serem crianças com os avós que têm tanto para dar, mas muitas vezes não
sabem quando...
Não há dúvida que as
crianças aprendem muitas coisas, muitos jogos, muitas regras nas escolinhas,
infantários e afins. Mas aprenderão a ser melhores pessoas? Aprenderão a sentir
os afectos que importam? A minha questão vem no seguimento das estatísticas
sobre o que as pessoas, de uma forma geral, consideram mais importante nas suas
vidas. No topo está normalmente a saúde, seguida da família. Bem, bem... a
família? De certeza? Mas então para quê trabalhar tanto para ganhar tanto dinheiro
para comprar tantas coisas... que nem se tem tempo para desfrutar, porque a
seguir é preciso comprar mais coisas e como tal é preciso mais dinheiro e como
tal é preciso trabalhar mais e como tal há menos tempo para aquilo que afinal
consideram mais importante: a família! Mas como a saúde também se vai
delapidando com tanto trabalho, o que resta?
Desta família fazem
parte os avós. Desta família fazem parte os netos. Desta família fazem parte os
filhos, os pais...
* Texto publicado no Jornal Chapinheiro